A culpa é dos meus pais

Se eu adoro programas culturais a culpa é dos meus pais. Eles nos levavam ao cinema e ao teatro. Todas as vezes que íamos ao zoológico tínhamos que visitar o museu. Também íamos à praia, é verdade. Mas quando o sol ficava muito forte eles nos vestiam e iam correndo para a Fortaleza de Santa Cruz. No verão íamos praticamente todos os domingos e tínhamos a fala dos soldados decorada. Circo, Bienal do livro, livrarias, igrejas, construções antigas, sempre estavam na nossa programação.

Se eu adoro visitar pontos turísticos a culpa é dos meus pais. Faziam questão de nos levar ao Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Jardim Botânico, Quinta da Boa Vista, Maracanã, Sambódromo, Vista Chinesa. Além de nos apresentar cada pedacinho da cidade onde vivemos: Niterói. E, por falar nela…

Se eu amo Niterói a culpa é dos meus pais. Eles nos ensinaram a olhá-la com olhos de turistas. Eles nos levaram além das praias. Conhecemos o Parque da Cidade, o Museu de Arte Contemporânea, o complexo de fortes, o Campo de São Bento. E, assim, aprendemos que o Rio de Janeiro pode ser uma cidade maravilhosa, mas Niterói é a melhor do Rio!

Se eu gosto de ler revistas a culpa é dos meus pais. Todo domingo eu e minha irmã acompanhávamos o meu pai na compra do jornal. Ganhávamos figurinhas e revistas em quadrinhos. Eu gostava tanto de revistas que durante a semana confeccionava as minhas até em sala de aula. Coisa de profissional, com seções e tudo. À medida que fui crescendo o tipo de revista foi mudando, mas leio até hoje.

Se eu sou apaixonada por Literatura Portuguesa a culpa é dos meus pais. Acho que nenhum deles leu Eça de Queiroz ou Camilo Castelo Branco, mas, sempre compravam livros desses autores. E, curiosa, lia todos. Meu escritor favorito é José Saramago e o livro da minha vida “Ensaio sobre a cegueira”. Mas tenho para mim que se não fossem os livros dos autores portugueses guardados na estante da sala de casa, Literatura Portuguesa são teria tanta importância na minha vida.

Se eu gosto de arte a culpa é dos meus pais. Mais da minha mãe, para dizer a verdade. Nunca leu histórias da Disney, sempre contou histórias inventadas por ela mesma, cheias de aventuras. E ainda fazia verdadeiras encenações! Também estimulava que brincássemos de massinha de modelar e desenhássemos.

Se eu não vivo sem doces a culpa é dos meus pais. Meu pai comprava tudo aos montes: caixas de chicletes, pacotes de balas e sacos de 1kg de bombons. Minha mãe fazia brigadeiros, bolos, tortas, quindins, sonhos. Os doces mais gostosos que você puder imaginar ela sabe fazer. E sempre fazia! Quando eu visitava alguém e as crianças tinham a quantidade de doce limitada eu não conseguia entender e morria de pena. Bom era ser criança lá em casa!

Se eu gosto de programas ao ar livre a culpa é dos meus pais. Inventavam piquenique, com direito a toalha xadrez e cesta de vime. Saíam cedo de casa e nos levavam em cachoeiras, praias e parques. Hoje eu frequento shopping, claro, mas me angustia não saber se chove, faz frio ou calor do lado de fora. E não gosto de lugares sem janela. Aprendi a ver a cor do dia e a observar como está o mundo lá fora.

E você, o que aprendeu com os seus pais?

Texto publicado por mim, no Amor Crônico, em 25 de janeiro de 2015.

                     

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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