Pelo direito de amar quem quiser

Eu não assisto novela e raramente vejo televisão, mas quando soube que Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg viveriam um casal na novela da Rede Globo, em horário nobre, fiquei imensamente feliz. Quando soube que haveria manifestações de carinho entre elas, com cena de beijo e tudo, mais feliz eu fiquei.

Sabia que as cenas seriam criticadas, assim como a emissora, as próprias atrizes e todos nós que defendemos o direito das pessoas amarem quem elas quiserem. Mas está na hora da sociedade brasileira parar com esse discurso fajuto, “em nome moral, bons costumes e valores familiares”, além de fingir que aceita relações homossexuais ao passo que acha um absurdo as pessoas viverem livremente suas relações.

Eu não tenho mais paciência para tanta hipocrisia. O que pensa essa gente que acredita que agora as pessoas vão ser gays, pois assistiram uma cena de TV? Que pergunta, com olhos arregalados, “como vou explicar isso ao meu filho”? Que defende com tanta violência que estão destruindo a família brasileira?

Eu queria muito conhecer o Brasil onde essas pessoas vivem, porque no Brasil onde moro, Bruno, um famoso goleiro, matou a mãe de seu filho. Com requintes de crueldade vale lembrar. Alexandre Nardoni jogou a filha pela janela, lembra? Isso só para citar crimes que repercutiram bastante e deve ter sido noticiado até no outro Brasil.

Aos que afirmam que homossexualidade virou moda e as cenas da TV vão influenciar as pessoas a ser gays, eu tenho uma pergunta a fazer: assistir cenas de relacionamentos heterossexuais impediu alguém de ser gay? Peloamordedeus, não sejam ridículos. Ou sejam menos. Tenho certeza que é possível.

Àqueles que dizem que não têm nada contra a orientação sexual alheia, mas acham que beijo na TV “já é demais”, que a pessoa pode ser gay, mas não precisa demonstrar e tantas outras coisas, por favor, me respondam: por que vocês podem andar de mãos dadas, beijar em público e os outros não? Por que vocês têm direitos exclusivos?

Mas para mim a pior de todas é a seguinte: como vou explicar para os meus filhos? Pais inventam papai Noel, coelho da páscoa, fada do dente, homem do saco e não sabem falar de amor com as crianças? Não deveriam nem ter tido filhos!

Eu não assisti um capítulo da novela e provavelmente não vou assistir, mas estou achando ótimo que tenha um casal de mulheres. E torço para que outras famílias sejam representadas na televisão, teatro, livros e onde mais for possível. Mães e pais solteiros, casais homossexuais, famílias recasadas. Não adianta fingir que só existe um tipo de modelo familiar, se convivemos com vários modelos todos os dias. Não podemos mais ignorar que elas existem.

Ignorar a diversidade só tem causado ódio e violência. Todos os dias pessoas são agredidas e mortas por serem homossexuais. Até quando vamos insistir em um modelo padrão e exigir que as pessoas se enquadram a ele? E matá-las por serem quem são? Recentemente um adolescente de 14 anos foi espancado na escola por ser filho de dois homens. Ele sofria bulying, foi agredido, ficou em coma e faleceu. É esse o mundo que queremos? É esse o mundo correto?

Infelizmente, há muito com o que se escandalizar nesse mundo: assaltos, sequestros, violência contra mulher, trabalho escravo, prostituição infantil, assassinatos, homofobia, corrupção. Uma cena de beijo, a representação de duas pessoas que se amam, se respeitam, trocam carinhos, definitivamente, não é uma delas. E se para algumas pessoas ainda é, significa que vivemos numa sociedade doente.

O mundo, queridos, é de todos. Se for muito difícil e doloroso entender isso, é bom começar a aceitar que é uma pessoa homofóbica e preconceituosa, porque só reconhecendo quem somos verdadeiramente podemos mudar e evoluir enquanto pessoa. Até porque, não faz nenhum sentido viver se não for para ser uma pessoa melhor a cada dia. Ou ao menos tentar.

Viva o amor! Porque de ódio o mundo já está cheio. Todo dia.

Texto publicado no Amor Crônico em 22 de março de 2015.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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