Toda forma de amor

Por muito tempo eu acreditei que as gerações futuras seriam mais abertas, tolerantes, respeitosas e pacíficas. Que o caminhar da humanidade traria mais serenidade e sabedoria para as pessoas e faria com que elas se preocupassem menos em fiscalizar a vida alheia. E tenho visto exatamente o contrário. O mundo está cada vez mais retrógrado. Antiquado. Quadrado. Parece voltar para trás em velocidade acelerada e que não há como interromper o avanço do retrocesso.

Infelizmente não sou jovem o bastante para acreditar que o mundo vai mudar rapidamente em algumas questões, como o respeito à homossexualidade. É inadmissível a realidade a que os homossexuais são submetidos todos os dias. E não podemos admitir que odiar pessoas que amam umas às outras seja correto. Porque não é.

Nunca irei me conformar com o ódio aos homossexuais e o assassinato de muitos deles todos os dias. Nunca. Em junho deste ano foram 49 vítimas em um ataque a uma boate gay em Orlando. No início do mês de julho um estudante da UFRJ foi morto no campus da universidade. Infelizmente, estes não são crimes isolados. Todos os dias pessoas são agredidas e mortas pelo simples fato de se relacionarem com pessoas do mesmo sexo.

Manifestações homofóbicas são incompreensíveis. Que crime cometem os que amam pessoas do mesmo sexo? Por que tanto ódio e violência contra pessoas que amam? Em que afeta a opção sexual do outro? O que leva algumas pessoas a julgar, condenar, controlar e punir o comportamento sexual alheio? Com que direito fazem isso? O que faz com que algumas pessoas se incomodem tanto com um homem que beija outro homem? Ou com uma mulher que beija outra mulher?

Eu não encontro respostas. Mas, infelizmente, a violência contra homossexuais é real e diária. Não por acaso muitos evitam andar de mãos dadas. Evitam falar se sua opção sexual. Fingem que seus companheiros são amigos. Escondem o objeto de seu amor. O preconceito existe, está em toda parte e mata todo dia.

O que para nós, heterossexuais, são atitudes simples e corriqueiras, como dar um selinho no companheiro, andar de mãos dadas, jantar em um restaurante, para os homossexuais representa um risco de vida. E eu não me conformo com isso. Em pleno século XXI e a sociedade ainda quer ditar, violentamente, as regras para a capacidade humana de amar.

O amor existe para ser vivido. E precisamos respeitar a diversidade que nos cerca. Porque o amor de  um homem por outro homem ou de uma mulher por outra mulher sempre existiu. E sempre vai existir. Tentar esconder essa realidade não irá mudá-la. Nem tampouco matar todos os homossexuais. Porque o amor não cabe numa forma, numa caixinha nem em um monte de regrinhas. O amor é como é.

Fico feliz quando uma novela de grande repercussão coloca uma cena de sexo gay ou um casal lésbico. Precisamos entender que estes casais existem e precisam ser respeitados. Ninguém vai se tornar gay, porque viu uma cena de novela. Como os gays são se tornaram heterossexuais assistindo milhares desses casais nos filmes, seriados, novelas.

O que algumas pessoas sentem de tão nefasto sabendo que alguém é homossexual a ponto de desejar seu mal? Eu nunca vou entender. Precisamos respeitar a individualidade das pessoas e aceitar que cada um de nós pode amar quem quiser. E tudo bem. As pessoas, quando amadas e felizes, tornam o mundo melhor, mais bonito, mais colorido, mais alegre. E é disso que estamos precisando.

Precisamos de um mundo com menos dedos apontados dizendo como deve ser o comportamento das pessoas e mais amor, sob todas as suas formas. Porque o amor não se preocupa em agredir, violentar nem matar ninguém.

Crônica publicada no Amor Crônico em 25 de julho de 2016.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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