Tem dias em que as palavras se escondem. Ficam ali, desconfiadas, olhando atrás da porta. Olhos grandes, arregalados e tímidos. Não entram, por mais que sejam chamadas. Não conseguem expressar o que sentimos, por mais que tenhamos explicado. São temperamentais essas palavras, essas muitas e múltiplas palavras. Levadas como crianças. Brincam de pique se esconde e riem de mim. Agora mesmo estão a apontar e conversar uma com as outras. Falam de mim, apontam para mim. São inquietas e desobedientes. Loucas, desmedidas e brincalhonas. Ainda estão lá, atrás da porta, olhando para mim. Ainda apontam, riem e falam uma com as outras.
Perdi todas as palavras.
Riem de mim essas crianças levadas.