Uma das minhas melhores amigas foi morar em Manaus. Recebeu uma proposta de emprego que julgou interessante, aceitou, arrumou as malas e partiu, deixando para trás a família, os amigos e namorado.
Muitos pensam que somos primas e pertencemos à mesma família. Nunca fizemos questão de desfazer o mal entendido, afinal, nos conhecemos com um ano de idade. Já estudamos no mesmo colégio, fizemos juntas aulas de inglês e jazz.
Engraçado como o tempo passou rápido, como mudamos bastante e como a amizade sobreviveu a tantas mudanças. Mudanças geográficas, também, já que ela sempre foi nômade e já morou e vários lugares. Nenhum tão longe quanto Manaus, claro.
É verdade também que a tecnologia ajuda a encurtar distâncias. E, desde que ela se mudou, temos nos comunicado bastante por msn, orkut, telefone móvel e fixo. As cartas e cartões postais estão só na promessa, por enquanto.
Acontece que a tecnologia tem lá suas desvantagens. Não é possível enviar o bolo de chocolate que minha mãe faz, e ela adora, por sedex. As piadas chegam desacompanhas de gargalhadas intermináveis. A conversa através de olhares, que só uma amiga entende também é prejudicada.
Eu nem sei porque estou escrevendo tudo isso. Quer dizer, até sei. Ontem foi domingo e geralmente aos domingos ela estava lá em casa, ouvindo as histórias da minha mãe, contando casos, falando do romance, rindo de nós mesmas e nossas confusões existenciais.
Foi domingo e ela não veio. Ligou para dizer como estão as coisas, ouviu minhas histórias, falou de seus planos, mandou beijo para todo mundo e desligou, depois de meia hora de conversa. E tínhamos tanto para falar ainda!
(Tinha bolo de chocolate, e nem ofereci.)