Domingo eu vou ao Maracanã

Eu sou Flamenguista. Fui seduzida por toda aquela alegria e euforia que tomava conta da rua em dias de jogos do Mengão, com direito a bandeiras, fogos de artifício, churrasco na casa do vizinho e aqueles menininhos (os mais lindos!) vestindo o manto sagrado. Quando o Flamengo vencia, a festa não tinha hora pra acabar e, quando perdia, era lindo ver aqueles meninos cheios de si, aos prantos, enxugando as lágrimas na camisa. Decidi, então, fazer parte dessa torcida tão alegre e tão sensível.

Ir ao Maracanã quando criança, nem pensar! Isso era programa que os pais faziam com os filhos. Filhos homens, que fique bem claro. Ter nascido menina e filha de vascaíno fizeram com que eu fosse ao Maraca, pela primeira vez e por conta própria, já adulta – e mesmo assim sob protestos! Dizem que primeira vez a gente nunca esquece, mas essa foi inesquecível MESMO!

Como todos dizem que é perigoso, há risco eminente de brigas (não vi nenhuma!) e que lugar de mulher não é num estádio de futebol (preconceito que vem diminuindo, graças a Deus!), eu não quis me aventurar sozinha. Além dos amigos, eu tinha um segurança particular, que torcia pro time adversário, mas resolveu ficar tomando conta de mim durante o jogo – o que lhe rendeu alguns pontinhos no campeonato cujo prêmio era o coração de uma burralda!

A torcida rubro-negra é mesmo a mais bonita do Brasil – PUTA QUE PARIU! Meu time seguia com vantagem, eu cantava os hinos da torcida feliz da vida, até que no calor do Estádio lotado, o meu companheiro-adversário, resolveu tirar a camisa. Eu estava prestando atenção no jogo, sim, mas foi impossível não perceber aquele anel pendurado no cordão, fazendo companhia aos já tão conhecidos pingentes.

– Que anel é esse???
– Um anel de compromisso.

Pára. Pára. Pára. Um gol do time adversário doeria menos do que saber, em pleno Maracanã lotado, sem cerimônia, que o cara com quem saía há tempos tinha namorada, noiva ou o raio que o parta! Que ódio. Contei até dez. Até cem. Até mil. Tive vontade de gritar, em alto e bom som, que aquele safado, cachorro, sem-vergonha, não era flamenguista e estava torcendo para o outro time, mas eu sou do bem e engoli aquele capim indigesto a seco. E sem dividir com mais ninguém. Zona de rebaixamento para ele, claro.

Tive que voltar ao Maracanã outra vez para esquecer a primeira e cheguei a conclusão de que toda mulher deveria ir, porque é melhor para o corpo do que qualquer drenagem linfática e para a mente do que qualquer terapia. Você canta, dança e pula mais do que criança. Xinga, grita e faz gestos obscenos mais do que criança. Com a vantagem de não ser recriminada por isso!

Agora, se você é solteira, compre ingresso para o próximo jogo AGORA! Não tem pegação no Maracanã e dificilmente o homem da sua vida vai encontrá-la no meio daquela multidão, mas em verdade vos digo: é a maior concentração de homem bonito por metro quadrado! Entre um gol e outro rola uma comemoração conjunta, nas faltas todo mundo vira técnico e tem conversa entre os torcedores. Nada além, porque pra um homem que gosta de futebol, um jogo é mais importante do que qualquer rabo de saia.

O melhor de tudo – só não é melhor do que o Flamengo ganhar! – é sair de lá com a sensação de que existe homem suficiente no Rio de Janeiro, ainda que as estatísticas mostrem o contrário, a certeza de que alguém será tão apaixonado por você quanto é pelo seu time de coração e um aprendizado que não se encontra em manual nenhum, como por exemplo: nunca confie em um homem que renuncia a sua própria torcida para conquistar uma mulher!

Idiotilde

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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