Flor do Lácio

Talvez por ter sido, e ainda seja, uma pessoa introspectiva, as palavras, mesmo dos outros, falam por mim. Sempre gostei das palavras escritas. Na época da escola já ganhei prêmio por ter a letra mais bonita da turma e por ter escrito a “melhor” redação. Não precisava de dicionário para saber o sinônimo ou significado das palavras, pois desde pequena eu lia muitos livros e revistas. Aos 13 anos já lia Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco.

Como brasileira, tenho um pé na cozinha, um pé na senzala mas, sobretudo, um pé na terrinha. Gosto de ler “o português de Portugal”. Hoje, as obras de José Saramago me aproximam dos meu avós portugueses, já falecidos, para quem eu lia minhas poesias.

Não escrevo mais poesias e morro de vergonha quando leem em voz alta algo que escrevo. Pode ser um e-mail, um cartão, um autógrafo.  Mas na infância eu tinha muito orgulho das minhas palavras, talvez por ter uma plateia bem benevolente. 

Ainda que fale pouco, não consigo me afastar das palavras. Sou formada em Letras e pós-graduada em Leitura e Produção de Textos. A Língua é viva, democrática e acessível a todos e, por esta razão, deveria ser mais respeitada. Ela  simboliza um povo, uma cultura, uma história.

Eu não deveria estar escrevendo tudo isso, mas fico indiginada quando escrevem sorrizo, ancioso, voçê, adiquirir, emtorno, inflassão e tantas coisas mais. Se fossem escritas por pessoas desprovidas de educação escolarizada ou em fase de alfabetização eu juro que entenderia, mas não. Escritas por pessoas que estudaram em boas intituições de ensino, falam outros idiomas, viajam para o exterior, fizeram intercâmbio.

O que está acontecendo? Será a escola, sozinha, responsável por esta vergonhosa realidade ou essas pessoas não leem (e nem disto se envergonham), desvalorizam a sua própria língua em prol das dos outros e renegam, de certa maneira, a sua própria pátria?

“Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…”

Olavo Bilac

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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