Por mais que eu diga que a gente tem que viver tudo que há para viver, voar sem os pés no chão e amar como se não houvesse amanhã, eu não aplico isso a minha vida. Não o tempo todo. Sou receosa e desconfiada. Demoro a construir minhas histórias, a compartilhar, a me entregar. Mas quando me entrego, me entrego de verdade. Por inteiro. Porque, do mesmo modo que o medo não existe pela metade, a coragem também não. Não sei dividir e não quero aprender – um relacionamento só é bom se for para somar. Hoje, por exemplo, escrevo cartas de amor – ridículas. Conjugo verbos no plural. Compro presentes. Mando mensagens. Aprendi a andar de mãos dadas. A paixão é, sem dúvida, um ótimo exercício para a imaginação. E o amor o maior entusiasta para transformar os sonhos em realidade. Podemos sonhar sozinhos. Podemos realizar sonhos sem precisar de ninguém. Mas não podemos sonhar pelo outro. Um relacionamento amoroso só existe se existem duas pessoas comprometidas e inteiras. Existe através da rotina. Através do dia a dia. Através da convivência. Através dos planos traçados em comum. Não vejo graça em amor platônico e não saberia viver um relacionamento estritamente virtual. Preciso da pele. Do cheiro. Do beijo. Do gosto. Do conflito. Da conciliação. Da risada. Do choro. Da raiva. Da alegria. Da tristeza. Do sucesso. Do fracasso. Do sonho. Do medo. Do ciúme. Da paixão. Do tesão. Da palavra. Do silêncio. Minha mente é brilhante. Fantasiosa. Mirabolante. Mas egoísta. Jamais perderia meu tempo sonhando sonhos envolvendo quem não me envolve nos seus. Porque se um relacionamento a dois não é o caminho mais fácil, a vida torna-se mais bonita quando temos alguém a quem dar a mão.
“O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.”
(Carlos Drumond de Andrade)
Texto publicado em 28 de janeiro de 2014 no Amor Crônico.