Escrever é um desatino


Desde que me conheço por gente sou fascinada pela linguagem escrita. Conta minha mãe que no jardim de infância eu brigava com a professora, porque ela não me ensinava a ler e escrever. E se ela não me ensinava eu julgava que ela não sabia – e a chamava de burra. Eu chorava, esperneava e não queria ir para escola.

Um pouco maior e já alfabetizada, uma das minhas brincadeiras preferidas era escrever livros e revistas. E redigir sempre fez parte da minha vida. Eu já ganhei prêmio por ter a caligrafia mais bonita da sala, minhas redações eram lidas em voz alta e no Ensino Médio, quando escrevi um texto sobre a minha gravidez, a professora gostou tanto que não quis me devolver. Mas eu não escrevia só na escola. Eu adorava agendas, diários e ainda tinha um caderno de poesias. Amo blocos e cadernos até hoje. Assim como canetinhas coloridas e lápis.

Escrever me levou a gostar de ler. Ou foi o contrário, não sei bem. Sei que era completamente apaixonada pela Turma da Mônica quando criança e que aos doze anos eu já lia Clarice Lispector e Camilo Castelo Branco. Também não tenho certeza se eu entendia adequadamente, mas aquelas palavras me levavam a outros mundos, me despertavam diferentes sentimentos e me faziam pensar. Não é esse o papel da arte?

Há dez anos, uma amiga me incentivou a fazer um blog e eu fiz. Tempos depois essa mesma amiga me convidou a fazer parte do “Mulé é um Bicho Burro Mermo” e eu aceitei. O sucesso foi tanto que fizemos amizades Brasil afora, fomos ao Programa do Jô e lançamos um livro. Cansadas, descontinuamos o site, apaixonadas por escrever logo nos metemos em outra empreitada: o Amor Crônico.

Já guardei muitos textos que nunca tive coragem de mostrar a ninguém e até hoje tenho vergonha quando leem algo que escrevo na minha frente. Mas, paradoxalmente, escrevo em dois blogs e exponho meus sentimentos e opiniões a todos aqueles que estão dispostos a ler. Um completo desatino. Palavras escritas têm um peso muito maior do que quando ditas. Estamos ali, passados a limpo.

Só quem ama escrever sabe o que estou dizendo. Sabe o que é encontrar uma página em branco e fazê-la se encher de vida. Sabe o que é escrever coisas desconexas e logo depois ver o mundo com mais clareza. Sabe o valor terapêutico que tem a escrita. A coragem que consiste em publicar suas palavras sem se importar com que os outros vão pensar – porque se for se preocupar não vai publicar uma linha.

Eu amo escrever. Isso não me faz melhor nem pior do que ninguém nem significa que escrevo bem. Mas é uma maneira de conhecer melhor a mim mesma, organizar minhas ideias, passar o tempo e criar memórias. E esse amor me leva a admirar os escritos dos outros e viver rodeada de livros e revistas. Sou daquelas que prefere ler a assistir um vídeo, mesmo de notícias. Não representa nada e não muda a vida de ninguém, é só mais um jeito de viver e de ver o mundo.

E qual é a sua maneira de ver o mundo? De que forma você se expõe? Como você aproveita os momentos em que está com você mesmo? Se não tem resposta para nenhuma dessas perguntas talvez esteja na hora de comprar um caderno, um lápis, umas canetinhas coloridas e começar a escrever. Tenha certeza: não faz mal a ninguém. Apesar de ser um desatino.

“Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.”
Manoel de Barros

Texto publicado por mim no blog Amor Crônico em 16 de novembro de 2014.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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