Eu queria escrever sobre o amor sob outra perspectiva: a de que amar nem sempre é bom. Acreditem, tinha o título até. E eu sabia o que queria dizer. Até o momento em que sentei para escrever e todas aquelas palavras, danadas e bagunceiras, simplesmente desapareceram e o título ficou ali, solto, jogado numa página em branco: Amores que vem para o mal.
Era esse o título que eu tinha criado com a pretensão de explicar que o amor pode causar mal. Veja se consegue me entender: eu queria falar sobre relacionamentos amorosos que não vão adiante, sobre aqueles cheios de idas e vindas, aqueles que trazem angústia, desencontro e sofrimento. Ou, pelo menos na maior parte do tempo. Esclareço que eu não iria abordar violência, pois violência não é amor. Nunca.
Eu só queria desmistificar essa coisa de que o amor é mágico, transcendental, puro e exclusivamente bom. Mas eu me desconcentrei. Com uma visita que chegou. Uma música que tocou. Um pensamento que repentinamente surgiu na minha mente. E isso me intrigou. Eu sou a concentração em pessoa! Por que eu simplesmente não consegui escrever sobre o tema que me propus?
Será que eu não queria parecer amarga, fria e pessimista? Lembro que me preocupei com isso enquanto escrevia. Se o amor é considerado sempre bom, como eu vou falar o contrário? Desisti do texto e do título por algumas horas e agora estou diante da mesma página, falando nada com coisa alguma, fugindo do tema, porque o título que inventei não para de me perguntar: o amor pode ser ruim?
Tentando responder a esse questionamento descobri que, na minha cabeça, amar só pode ser bom. E se não é bom não é amor. Mas isso me parece tão simplista… E logo surge outra pergunta: precisa ser complicado? Então dou por encerrado esse texto que deveria ser sobre uma coisa e acabou sendo sobre coisa alguma. Lamento decepcionar, mas hoje não tem conclusão.
Tire as próprias. Ou não.
Texto publicado por mim, no Amor Crônico, em 22 de fevereiro de 2015.