Primos que na infância eram melhores amigos ao longo do tempo pouco têm em comum para conversar e manter algumas horas de diálogo. Amigos de infância ou adolescência, antes parceiros, companheiros e confidentes, tornam-se distantes, mesmo sendo vizinhos. Familiares engraçados, queridos e essenciais a nossa existência passam a incomodar com piadas antiquadas e comentários desnecessários.
Algumas pessoas que antes frequentavam nossas casas, eram companhias indispensáveis para qualquer programa, nos divertiam e conviviam conosco constantemente se transformaram. E não cabem mais em nosso universo. Hoje adotam comportamentos que reprovamos, fazem piadas que nos envergonham, agem de maneira que não admiramos. Provavelmente essas mesmas pessoas pensam o mesmo de nós.
Com o passar do tempo algumas diferenças tornam-se muros intransponíveis e precisamos deixar algumas pessoas ao longo do caminho. É muito desgastante conviver com quem nos diminui, nos envergonha, exige que tenhamos comportamentos semelhantes aos seus ou simplesmente não consegue mais acompanhar nosso estilo de vida. Nem tampouco respeitar a pessoa na qual nos tornamos.
Só podemos construir pontes com aqueles que nos engrandecem, que nos ensinam alguma coisa, que nos fazem refletir sobre o que somos e nos permitem ser melhores. Amigos e familiares que acompanharam a passagem do tempo e nos respeitam em nossa plenitude serão sempre essenciais em nossa jornada. Porque talvez seja essa a maior dificuldade da vida: desfazer os laços com pessoas que foram significantes para nós e permanecer ao lado de quem nos faz bem.
Não há espaço para caminhar ao lado de todas as pessoas que fizeram parte da nossa existência. Mudamos enquanto alguns parecem estacionados num tempo que não existe mais. Fizemos escolhas muito diferentes e hoje tudo o que fazemos parece inadequado aos olhos de alguns. Cada pessoa é um universo e quando os mundos se desencontram não é possível continuar andando pelos mesmos caminhos.
Ainda que algumas dessas pessoas continuem sendo amadas por nós, permaneçam em nossos corações e tenham toda nossa torcida e apoio, ao trilhar rumos tão diferentes não seguirão mais ao nosso lado. E precisamos aceitar isso. Aceitar que as escolhas que fazemos são únicas. Aceitar que nossas experiências são individuais. Aceitar que mesmo tendo vivências semelhantes a de outras pessoas nos transformamos em alguém diferente. Aceitar que mesmo aqueles que nos ajudaram a nos tornar quem somos, hoje impedem que continuemos a nos desenvolver.
As mudanças pelas quais passamos ao longo da vida nos distanciam de algumas pessoas que amamos. E tudo bem. Inútil sentirmos culpa. Precisamos compreender que ao seguir determinado caminho sem levar algumas pessoas conosco estamos permitindo que elas também sigam suas escolhas em paz. Porque na vida tudo se transforma o tempo todo, inclusive os nossos relacionamentos.
Texto publicado no Amor Crônico em 27 de dezembro de 2015.