Desde pequenas ouvimos que nós, mulheres, nos arrumamos uma para as outras, que preferimos a companhia masculina, que somos fofoqueiras, fúteis e invejamos o que nossas amigas têm. Eu, que sempre colecionei um maior número de amizades do sexo feminino, nunca dei muito crédito a essas afirmações.
Nunca fui uma pessoa competitiva e não me lembro de ter me arrumado para ninguém a não ser para mim mesma. Hoje, adulta, posso afirmar que, embora amizade independa de gênero e sexo, conversar com mulheres é algo libertador. E essencial para nos mantermos firmes e fortes.
Vivemos em uma sociedade que nos diz, diariamente, o que é ser homem e o que é ser mulher. E desempenhamos adequadamente esses papéis. O que faz com que, por mais empáticos que os homens que convivem conosco tentem ser, eles não sejam capazes de nos compreender. Por isso, ao menos para mim, é tão importante conversar com outras mulheres.
Ter amigas para conversar sobre as nossas vidas, discutir o que acontece no mundo e também debater sobre o que a sociedade tem exigido de nós, o que não tem sido pouca coisa, é muito importante. São muitas as pressões que sofremos. Temos que encontrar alguém, casar, ter filho, filho único não é bom tem que ter outro, é inaceitável estar acima do peso, é errado ganhar mais que o marido, também não deve ter um emprego em que precise viajar muito, se o homem nos trai a culpa é nossa.
Alguns podem afirmar que é exagero – inclusive mulheres. Mas toda mulher, em algum momento da sua vida, já ouviu que se está nervosa deve estar com TPM, se está estressada deve ser falta de sexo, se está chorando é porque é muito sensível ou não passa de uma louca e histérica, que é fútil por gostar de maquiagem.
A companhia de amigas mulheres nos fortalece. Elas sabem, tanto quanto nós, o que é ser uma mulher. Já foram assediadas na rua com palavras chulas que machucam a alma, já tiveram suas opiniões menosprezadas e reverenciadas logo depois quando ditas por um homem, já foram chamadas de arrogantes e mal educadas apenas por terem dado sua opinião.
Conversar com pessoas de mente aberta é sempre bom. Mas quando essas pessoas são mulheres é ainda melhor, porque elas sabem exatamente o que você quer dizer sem que seja preciso explicar. Elas já vivenciaram ou conhecem histórias semelhantes às suas. E isso traz mais leveza ao diálogo.
Cada dia que passa sinto que precisamos mais umas das outras. Entre mulheres nos damos conta de que os homens nos chamam de loucas para se saírem como vítimas e chamam de fofoca nossa conversa para ridicularizar o diálogo feminino, por exemplo. Mas só quando estamos juntas percebemos essas e tantas outras coisas – e ganhamos força para nos voltar contra esses padrões.
Tenha uma amiga. Aquela para quem você pode perguntar se a roupa cai bem, onde encontra o esmalte ideal, pode indicar um ginecologista ou desabafar sobre o dia a dia. E, acima de tudo, uma mulher que, por viver as mesmas pressões que você, não vai chamar de exagero suas colocações. Porque, sabemos, estamos todas no mesmo barco.
Texto publicado no Amor Crônico em 8 de fevereiro de 2016.