Há tempos atrás conheci uma mulher cujo sonho era casar e ter filhos. Sonhava com isso. Desenhava o vestido de noiva que usaria no grande dia, tinha nome para os filhos que ainda não tinham nascido e lamentava a dor de um amor que ainda não conhecera.
Ela não era mais nenhuma menininha. Próximo aos quarenta anos, tinha vivido alguns relacionamentos, teve algumas paixões e acreditou ter encontrado o amor de sua vida. Nenhum dos relacionamentos a levou ao altar e ela estava preocupada com o passar do tempo. Com o dito relógio biológico com o qual aterrorizam as mulheres. Com a possibilidade de não ter seu sonho realizado. De não ver os filhos que ela já conhecia em sua mente.
Eu ouvia suas histórias com atenção. Suas paixões avassaladoras foram, em sua maioria, com homens já comprometidos, que se encontravam com ela às escondidas, que prometeram amor, fidelidade e respeito, mas não respeitaram as mulheres que viviam com eles, nem tampouco terminou o relacionamento para viver com o “novo amor”.
Ela me contava histórias tristes. Como uma vez em que foi passear no shopping, viu o homem que amava em uma joalheria, ficou super feliz com a possibilidade de ganhar um presente, mas descobriu, tempos depois, que ele havia comprado uma joia para a esposa, aquela mulher que ele jurava não amar mais e com quem iria terminar em breve. Ainda assim, o relacionamento com ele durou anos. Anos de espera e frustração.
Nem todas suas paixões foram homens comprometidos. Ela já se envolveu com alguns que não trabalhavam, viviam às custas de seu dinheiro e não incentivavam o seu desenvolvimento. Com outro que bebia e tornava-se violento. Com um que tinha ciúmes a ponto de persegui-la e ela acreditava ser demonstração de amor. Com um que jurava fidelidade e amor, mas a traiu diversas vezes e ela perdoou. Teve um que já era pai, mas não pagava pensão alimentícia, não via o filho e falava mal da ex, uma louca, afinal.
Todas as relações foram duradouras e só terminou quando eles quiseram. Imagino que ela acreditava que quem ama deve aceitar tudo e perdoar tudo. Até o que lhe faz mal. E lembrei que muitas vezes sabotamos os nossos sonhos mais verdadeiros acreditando que estamos fazendo de tudo para que se realizem.
Ela queria casar e não existe nenhum problema nisso. Mas tudo que fazia até o momento em que a conheci era se envolver com homens já casados ou que não queriam nenhum relacionamento que envolvesse cerimônia, troca de alianças, viver sob o mesmo teto ou ter filhos. Ou nem ligavam para os filhos que já tinham tido.
Perdemos o contato e não sei por onde ela anda, nem se casou ou teve os filhos que queria. Mas essa história é exemplo de que às vezes optamos pelos caminhos errados para atingir nossos objetivos. Inclusive amorosos. Não dá para esperar amor de quem não sabe amar. Respeito de quem não respeita. Fidelidade de quem já demonstrou ser infiel. Relacionamento de quem já se comprometeu com outra pessoa.
Algumas pessoas vão dizer que é egoísmo, mas antes de se se envolver com alguém, fazer planos e ver o tempo passar, é necessário pensar em si mesmo. Em seu bem estar. Em sua felicidade. Em seu prazer. Em sua realização. Em seu desenvolvimento. Em seus sonhos. E acreditar, de todo coração, que merece viver tudo o que sonha viver. Ou até mais do que sonhou, nunca menos.
Sempre existirá alguém para compartilhar dos mesmos ideais e embarcar nos seus sonhos. Um dos ditados populares diz que “há sempre um chinelo velho para um pé cansado”, então não vale a pena ficar calçando o que não lhe serve, desperdiçando a oportunidade de calçar o chinelo certo.
O mundo vai colocar as pessoas erradas no nosso caminho. Acenar para uma direção que parece mais interessante. Fazer com que a gente desista de algo que queria. Mas precisamos reavaliar sempre se a vida que estamos levando é a vida que desejamos e o quanto estamos longe do nosso ideal.
É fácil sabotar nossos próprios sonhos e depois culpar os outros pela nossa infelicidade. Mas precisamos escolher, conscientemente, o que nos faz bem e renunciar o que nos faz mal, mesmo que doa. Portanto: não desista dos seus sonhos. Não os sabote. Não se distancie do que você realmente quer.
Todo mundo merece viver a felicidade de ter seus sonhos concretizados. Acredite nisso.
Crônica publicada no Amor Crônico em 2 de maio de 2016.
….ótimo texto Giseli, parabéns…complicado lidar com as trapaças que nós mesmos nos colocamos…