Meus hábitos estão mudando e eu, que sempre odiei seriados e nunca acompanhei nenhum, já assisti alguns e estou apaixonada por Desperate Housewives. A série, que conta a história de cinco amigas, faz parte da minha rotina. Elas são donas de casa, mães, esposas, profissionais, filhas e, como cada uma de nós, vivem o desespero de equilibrar os diferentes papéis que desempenhamos na vida.
A série mostra o quanto passamos uma imagem diferente do que somos e estamos vivendo até para as amigas mais amadas e próximas. Lembro que em um dos capítulos, Lynette, mãe de quatro filhos, começou a tomar remédios, pois estava se sentindo incompetente como mãe e incapaz de realizar todos afazeres domésticos com a perfeição que desejava. Mas o seu organismo não aguentou, ela passou mal, fugiu de casa e foi encontrada aos prantos pelas amigas.
Chorando compulsivamente ela explicou que era uma mãe péssima e gostaria de ser como suas amigas: exemplares e excelentes. Neste momento todas se emocionaram e contaram que, diferente do que ela pensava, já se sentiram desesperadas e incompetentes como mãe. Ao que ela pergunta: por que vocês não me contaram isso antes?
Vivemos numa sociedade que não nos permite falhar. Quando se trata de maternidade e vida doméstica então, é exigido que, principalmente as mulheres, deem conta de todas as atividades com excelência e um sorriso no rosto. E, mesmo sobrecarregadas, muitas não fazem outra coisa a não ser deixar parecer que a vida é leve, fácil e estão dando conta de tudo.
Não é prudente falar da nossa vida para qualquer pessoa e expor nossas fraquezas para qualquer um, mas precisamos ter com quem nos abrir. Amigas que nos querem bem serão também transformadas pelo que dizemos e ficarão mais tranquilas diante de suas próprias dificuldades sabendo que nem tudo é perfeito. Que mesmo os fortes têm fraquezas, que as mães exemplares estão cheias de dúvidas, que as fotos alegres escondem tristezas.
As experiências que vivemos podem ajudar outras pessoas a refletir, a repensar, a transformar atitudes e perceber que não estão sozinhas. Assim como a experiência delas nos fazem mais vivas, humanas e contribuem para o nosso desenvolvimento. Por isso participamos de grupos de discussão, fóruns e procuramos saber sobre temas que nos interessam.
Quantas vezes mais vamos esperar alguém exclamar: por que não me contou isso antes?! Por que não dizer eu te amo? Por que elogiar quando não quer? Por que dizer que sabe fazer algo quando não sabe? Por que afirmar que está tudo ótimo quando não está? Por que negar ajuda quando precisa de uma mãozinha? Por que dizer que está feliz da vida como mãe, se gostaria de uns minutinhos para tirar um cochilo? Por que não falar que está doente? Por que não assumir que tem um problema?
Os amigos não podem resolver nossos problemas, mas muitas vezes compartilhar inseguranças, medos, angústia e ansiedade já é o suficiente para nos sentirmos melhores, ouvirmos outras opiniões e nos darmos conta de que todo mundo, por trás de fotos felizes, estão passando por momentos similares aos nossos. Porque a vida é muito boa, mas não é alegre o tempo todo. Mas pode ficar mais leve quando temos com quem compartilhar.
Lembro bem desse episodio. Chorei bastante e fiz essas mesmas reflexões: por que, tantas vezes, não nos desnudamos de verdade nem pra quem nos é tão próximo? As ‘housewives’ nos traduzem muito bem…
A gente vive numa sociedade e num tempo em que todo mundo é aparentemente foda. Permitir-se ser mediano é quase uma transgressão.
Escreva mais sobre as reflexões que DH suscitar em você. 🙂
A série é muito boa! E estou assistindo graças à você. Eu me vejo em muitos episódios. Muitos. 🙂
Muito bom seu artigo.