Os inconvenientes

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Aquela vizinha super legal, “pau para toda obra”, mas que não bate na porta antes de entrar e reclama da vida sem parar. Familiares que ligam nos horários mais impróprios ou aparecem sem avisar. Amigos que amamos, mas dão palpites quando não pedimos. Parentes que são incapazes de fazer um pedido, mas ficam mandando indiretas para conseguir a ajuda desejada.

Mesmo as pessoas que amamos, fazem parte das nossas vidas, convivem conosco e têm um lugar cativo em nossos corações, podem ser detestáveis, inconvenientes e invasivas. O que pode se transformar num grande problema se o apreço que temos por elas nos impedem de dizer o que nos incomoda e impor limites.

O passar dos anos me ensinou que não devemos aturar tudo por amor e precisamos dizer não mesmo àqueles que nos são especiais. Porque se o amor for recíproco, ainda que na hora a pessoa fique magoada, mais tarde ela vai entender que relacionamentos precisam ser satisfatórios e saudáveis.

Acreditar que alguém que negou ajuda num dia não te ama, que aquele que disse com todas as letras que você chegou numa má hora está sendo antipático, que estamos sendo preteridos quando alguém não pode nos receber é de uma enorme imaturidade. Porque o amor precisa nos permitir ser livres para demonstrar o que estamos sentindo e desejando.

Também parei com a ideia de acreditar que preciso fazer “das tripas coração” para atender as necessidades alheias. Aprendi que para ajudar alguém, antes precisamos estar bem. Eu não vou fazer sua comida se nem a minha eu fiz, não vou arrancar a roupa do meu corpo e ficar sem, deixar de pagar as minhas contas para pagar as alheias, deixar de fazer o que tinha programado, porque alguém programou, sem avisar, que eu deveria fazer outra coisa.

Pode parecer egoísmo, mas é só uma dose de racionalidade que o passar do tempo me ensinou a adotar. Pessoas adoráveis conseguem ser inconvenientes. Mas nós precisamos encontrar mecanismos para nos proteger delas. Até porque, não é possível ajudar os outros quando nós mesmos estamos em apuros.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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