Homem invade uma casa no réveillon, comete uma chacina e entre os mortos estão sua ex-mulher e o filho. Deixa uma carta para justificar que mataria por amor, pois estava sendo impedido de ver a criança.
Um homem ataca a ex-namorada com ácido deixando-a com graves feridas no rosto e correndo o risco de perder a visão.
Cônjuges traídos ou inconformados com o fim do relacionamento matam suas companheiras, divulgam fotos íntimas na internet para se vingar e chamam isso de crime “passional”, dando a entender que o amor motivou o crime.
Uma mãe esfaqueia o filho até a morte por ele ser homossexual.
Um pai abusa sexualmente de sua filha, ela engravida, tem o filho dentro de casa e ele pega a criança recém-nascida e joga fora.
Infelizmente nenhumas dessas histórias foram criadas por mim. Basta abrir qualquer portal de notícias para se deparar com essas e tantas outras atrocidades. Muitas justificadas por amor. Mas eu estou aqui para dizer que o amor não mata, não fere, não agride, não humilha. Violência nunca é sobre amor.
O amor pondera, tolera, aceita as diferenças, tenta compreender o outro, encontra uma maneira sadia de resolver qualquer situação adversa. O amor é bom, não deseja o mal de ninguém. Quem ama quer ver o outro feliz.
Não importa se é seu pai, mãe, amigo, namorado, filho, tio, avô, avó, madrinha. Se te ameaça, espanca, menospreza, faz com que você se sinta mal, te deixa com medo, impede de dar suas opiniões, te persegue, prejudica seus relacionamentos afetivos e faz com que você perca a vontade de viver, essa pessoa não te ama.
Um pai impedido de ver o filho procura um advogado, escolhe um mediador para tentar conversar com a ex, mas nunca mata o filho. Assim como um homem inconformado com a separação chora, enche a cara num bar, faz uma poesia, joga fora todas as lembranças. Mas não mata a mulher.
Uma mãe religiosa, que aprendeu que homossexualidade é pecado, pode ter dificuldade de aceitar a orientação sexual do seu filho. Mas mata. Porque quem ama acolhe, busca o diálogo, procura entender e, ainda que não concorde, aceita a diferença.
Ninguém bate, espanca, humilha, ameaça e mata alguém porque ama demais. Não acreditem nesse discurso. As pessoas matam e causam tanta dor porque estão vazias de amor. Porque não sabem amar. Porque não enxergam nada além de si mesmas, porque a vida dos outros não são importante para elas.
Nenhum crime é motivado por amor. Só pelo ódio. O ódio mata. O ódio fere. O ódio é intolerante. O ódio é egoísta. O ódio é preconceituoso.
Violência nunca é manifestação de amor.
Crônica publicada originalmente no Amor Crônico em 16 de janeiro de 2017.