Você se apaixonou perdidamente, namorou, casou e resolveu viver sob o mesmo teto com o ser amado, alma gêmea, metade da laranja. Como todo casal, sonhava em viver o feliz para sempre, até que a morte os separe. É claro que, não sendo mais criança, já sabia que, diferente dos contos de fadas infantis, a felicidade precisa ser construída todos os dias. E se comprometeu a fazer isso.
A vida adulta é cheia de compromissos e responsabilidades. Viver sob o mesmo teto, embora seja uma delícia, requer compartilhar mais do que amor e paixão: contas, afazeres domésticos, educação dos filhos, programação familiar, problemas, estresses profissionais e uma série de coisas que vão além de beijinhos e carinhos sem ter fim.
Em meio a tanto cotidiano, que suga a vida de todo adulto, muitas vezes os casais se veem desapontados, estressados e incomodados com a pessoa pela qual se apaixonaram. Por razões pequenas como a pia molhada depois de lavar a louça, um pote mal fechado, uma ligação telefônica menos calorosa, uma desatenção que fez um objeto cair, chegam a se desentender e brigar.
Certamente não dá para negligenciar o que o outro faz de negativo, fingir que não se ofendeu, esconder que ficou magoado com determinado comportamento. Mas é necessário encontrar equilíbrio para expor seus sentimentos e criticar de forma construtiva, que venha a contribuir para o crescimento da relação, ao invés de fazer tempestade desnecessariamente a cada pequena atitude.
O outro é uma pessoa diferente. Que pensa diferente. Age diferente. Tem opinião diferente. Aprendeu de maneira diferente. Por isso é compreensível que coisas simples, que você costuma fazer de uma maneira, o amor de sua vida faça de outra. Parece óbvio, e é. Mas a convivência faz com que muitas pessoas esqueçam disso e comecem a exigir que seja feita a sua vontade, assim na terra como no céu.
Aprendemos, desde cedo, a criticar o outro, apontar erros, ver o lado negativo. Em uma relação amorosa algumas vezes acontece o mesmo: você enxerga os defeitos. Todos temos pontos negativos e seu amor saberá apontar muitos dos seus se formos perguntar. Mas, e as qualidades?
O que fez com que você se apaixonasse pela pessoa que está ao seu lado hoje? O que você vê de bom nela? O que só essa pessoa sabe a seu respeito? De que maneira ela faz você se sentir bem? Como ela te ajuda? Você elogia com a mesma frequência com que critica? Ou acha que tudo que o outro faz bem não é mais do que obrigação?
Enfatize o positivo. Elogie. Demostre admiração. Diga “eu te amo”. Agradeça. Não permita que o cotidiano, as responsabilidades, as obrigações, os compromissos e estresse de cada dia transformem a leveza do amor em uma relação pesada, áspera e difícil de sustentar. Comece aceitando que são diferentes, e não almas gêmeas. Mas que podem enriquecer um ao outro com as diferenças. E amor.
Crônica publicada no Amor Crônico em 26 de março de 2019.