Sempre defenderei que o amor é bom, mas não posso negar que é, também, uma fonte inesgotável de deveres e responsabilidades. Quem ama cuida, protege, se responsabiliza. Eu não sei como seria a vida se fôssemos incapazes de amar, mas sei que a vida de quem ama é cheia de afazeres e compromissos.
Quando um bebê nasce é uma festa, mas quando o seu bebê nasce, ele é o seu mundo. Um mundo que ocupa 24 horas do seu dia. Que não se alimenta sozinho, nem se troca, nem toma banho. E, ainda que exaustos, passando noites insones, não sabemos como podemos amar mais aquela pessoinha, aquela parte de nós. Isso é amor.
É chato ir em reunião escolar? Na maioria das vezes é. Mas você precisa saber o rendimento escolar do filho e como se relaciona com as os outros no ambiente acadêmico e, por isso mesmo, ajusta a agenda, dá um jeito e está lá. E quase morre de orgulho se um profissional o elogia. Isso é amor.
Muitos pais, mesmo depois de um dia exaustivo, levam e pegam o filho na festa com medo de que ele vá embora sozinho, pegue carona com amigos embriagados ou chame um motorista de aplicativo tarde da noite. Isso é amor.
Quando o pai, mãe, filho, cônjuge, irmão ou amigo estão doentes, você se preocupa em fazer a sua comida preferida, comprar um livro, baixar uma série, mandar mensagens de apoio ou qualquer outra coisa para fazer o dia dela melhor. Isso é amor.
Quando a gente ama a gente cuida, se entrega, se preocupa. Às vezes tira forças de onde nem sabia que existia para fazer bem a pessoa que depende de você. Ou depende naquele momento. Por isso mesmo, o amor nos fortalece – e nos torna humanos.
Amor não é foto de porta-retrato, festas, presentes, beijos e abraços. Amor é doação e responsabilidade. É providenciar o que comer, o que vestir, em que escola estudar, deixar de comprar algo para você para comprar para o outro, é ligar para saber se está tudo bem, acompanhar no médico, anotar os horários dos remédios.
Amar é se preocupar com outra pessoa além de você mesmo. E, ainda que dê trabalho e às vezes canse, é a melhor coisa que existe na vida, pois só amando somos amados. E só amando descobrimos o tamanho da nossa existência.
Crônica publicada no Amor Crônico no dia 14 de outubro de 2019.