Como boa canceriana, sou romântica e acho lindo quando leio metade da laranja, alma gêmea, tampa da panela para se referir ao par amoroso. E já usei. Mas o que aprendi ao longo dos anos é que só duas pessoas inteiras podem construir um relacionamento saudável e feliz. Metades não se completam, pois, simplesmente, não existem.
Mas o que é ser inteiro se estamos em constante mudança, aprendemos a cada dia e convivemos com a frustação de que sempre há uma falta em nós mesmos? Ser inteiro é isso: a constatação de que somos incompletos, mas não há uma outra pessoa no mundo que completará o nosso vazio existencial.
O amor é lindo. Viver com alguém pode ser uma experiência maravilhosa se aceitarmos que não cabe a outra pessoa a responsabilidade de nos fazer felizes e que, ao encontrar o amor, não nos tornaremos seres completos. Continuaremos sendo o que sempre fomos, nós mesmos.
Relações duradouras ensinam bastante e percebemos que não somos mais quem éramos no início do relacionamento. O amor, a convivência, a vontade de querer que dê certo, com certeza, impactam a vida de cada um de nós. Mas todo amor nos transforma. A maternidade e a amizade, por exemplo, estão aí para provar.
Parece óbvio, e é, mas o óbvio precisa ser dito: depois que a paixão acaba e você enxerga a pessoa tal como ela é, o relacionamento não sobrevive se você não tiver consciência de que ninguém no mundo, a não ser você mesmo, pode atender as suas expectativas. O outro é o outro. Com qualidades, defeitos, erros, acertos. Uma pessoa comum, como tantas.
Não aceite um amor menor do que você merece, mas não caia na tentação de buscar eternamente alguém que não existe: a sua metade.
Crônica publicada no Amor Crônico no dia 20 de setembro de 2021.