Querido Diário

Acredito que a maior parte das mulheres da minha idade teve, durante a infância, um diário onde registrava tudo o que acontecia no dia a dia e, mais que isso, tudo aquilo que gostaria que acontecesse. Eu não fui diferente. Tive diários com capas coloridas e cadeados que, depois, foram substituídos por agendas.

Acabei de lembrar que, na ausência do orkut ou facebook, os depoimentos eram escritos na agenda mesmo, que passava de mão em mão na sala de aula. Todo mundo queria escrever alguma coisa para eternizar a amizade de infância. Duvido muito que meu filho conheça a letra do seu melhor amigo, mas enfim, eu sou de outra época.

Eu escrevia sempre que estava alegre e mais ainda quando triste, afinal, quem me compreendia melhor do que o meu próprio diário? Se estava nervosa, ficava calma. Se estava eufórica, ficava serena. Se estava com vontade de desencadear a 3ª Guerra Mundial, ficava em paz.

A verdade é que até minutos atrás eu nem lembrava que tinha tido diários. Foi Saramago (sempre ele!) que me fez lembrar:

 

A memória que temos

Nós somos muitas coisas, mas somos sobretudo a memória que temos de nós mesmos, e o diário, nesse sentido, é uma espécie de ajuda à memória.

“José Saramago: ‘Nosotros somos sobre todo la memoria que tenemos de nosotros mismos”, La Provincia, Las Palmas de Gran Canaria, 20 de Julho de 1997
In José Saramago nas Suas Palavras

 

Tudo isso para dizer que eu não tenho mais registros que venham ajudar minha memória quando ela começar a falhar. Um belo dia, adulta e cheia de mim, joguei tudo fora. Sem dó nem piedade. 

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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