Costumo dizer que já nasci velha. Sempre gostei de museus, nunca vislumbrei ir à Disney, preferia a cadeira de balanço da minha avó à rede que tínhamos no quintal. Quando era criança a Fortaleza de Santa Cruz era um dos meus programas favoritos. E ainda é. Gosto de contemplar. De olhar. De admirar. De deixar que a mente viaje por si mesma.
Meu filho diz que eu gosto é de interpretar. Tudo o que vejo, o que leio, o que ouço. Talvez seja só isso mesmo. Talvez eu seja só uma pessoa que não se conforma com a praticidade das coisas e precisa sempre encontrar alguma razão – ou mais ainda: alguma emoção, em tudo que vê, que lê, que ouve, que faz. Se não há nenhuma razão ou explicação para essa coisa chamada vida eu me sinto responsável por dar algum sentido a ela.
Mas, a bem da verdade, eu olho para mim e só consigo enxergar uma velhinha ponderada, observadora, filosófica e cheia de histórias para contar.
Uma velhinha que olha as pessoas com tanta pressa, correndo de um lado a outro e só consegue pensar que estão perdendo tempo na ânsia de ganhar.
Uma velhinha que já aprendeu que certas discussões são tolas e, outras, vitais para o nosso desenvolvimento.
Uma velhinha que, pode até reclamar da vida uma vez ou outra, mas não culpa ninguém pelos seus fracassos, porque sabe que cada escolha equivale a uma renúncia – e, bem, se ela escolheu mal, ninguém pode ser responsabilizado por isso.
Uma velhinha que se horroriza com tanta barbárie contra as crianças e não entende o porquê estudar se tornou tão perigoso nos dias de hoje.
Uma velhinha que celebra cada vitória, porque não sabe quanto tempo mais vai restar.
Uma velhinha que não quer andar depressa – só não quer perder tempo.
“Alma!
Daqui do lado de fora
Nenhuma forma de trauma
Sobrevive!
Abra a sua válvula agora
A sua cápsula alma
Flutua na
Superfície!”
(Composição de Pepeu Gomes e Arnaldo Antunes)
Adorei o texto, amiga.
Me identifico. Sou meio velhinha também.
Mas, acho mesmo que “velhinhos são crianças nascidas faz tempo…”
Bjs