O trânsito carioca, e acredito que o do Brasil, está infestado de motoristas que se julgam os donos do mundo. Das ruas e das calçadas. Param em fila dupla, estacionam nas calçadas, utilizam vagas de deficientes. Os motoristas querem chegar na frente, chegar antes, ultrapassar os demais, dar uma fechada no carro da frente. Parece que competem entre si.
Vejo que os motoristas estão cada vez mais impacientes, mais ríspidos, mais imediatistas, mais apressados, mais mal educados. Buzinam sem necessidade, freiam sem cuidado, desrespeitam sinais de trânsito, andam em alta velocidade, ouvem música nas alturas, atendem telefone, twittam e olham facebook enquanto dirigem. Mulheres retocam maquiagem e homens aproveitam cantar alguma mulher.
Respeitar o pedestre, então? Os motoristas não conseguem entender, de jeito nenhum, que os pedestres são os verdadeiros donos das ruas, que os motoristas têm apenas uma concessão para utilizar as vias e, portanto, deveriam ser mais gentis.
Para que parar em cima da faixa de pedestre? Para que ultrapassar o sinal? Para que acelerar quando vê alguém atravessando a rua? Para que tanta arrogância e prepotência quando se está no volante? É claro que existem pedestres mal educados, mas hoje quero falar dos motoristas.
Ninguém respeita ninguém. Nas ruas ou fora delas. Todo o caos e violência dos motoristas só fazem refletir a falta de educação que já existe fora dos carros. Parece que as pessoas estão com vergonha de agir de forma educada, gentil, justa e solidária. Ser correto hoje, na nossa sociedade, é motivo de chacota. É ser bobo, idiota, babaca, burro. O que vale é ser esperto. O resultado disso é uma quantidade enorme de acidentes e mortes que poderiam ser evitadas.
Eu acredito que quanto maior a nossa consciência e respeito pelo outro, mais corretas serão nossas atitudes no trânsito. Ser gentil não é sinônimo de ser babaca. Respeitar a sinalização e dirigir com cuidado não significa que sejamos idiotas. Muito pelo contrário. Significa, isso sim, que estamos construindo uma sociedade mais pacífica, mais justa, mais equilibrada e mais responsável.
Só deixaremos de assistir acidentes e mortes no trânsito quando cada um de nós se conscientizar de que, ao volante, temos responsabilidade não só pelas vidas que estão em nosso carro, mas por todas aquelas que, por ventura, cruzem nosso caminho. É possível ter um trânsito menos hostil, agressivo, violento e assassino. Desde que cada um faça a sua parte.