Quando fecho os olhos tenho impressão de que estamos na Idade Média, tamanho retrocesso e conservadorismo da nossa época. São tempos difíceis. Desrespeito às diferenças, violação dos direitos humanos, corrupção, falta de ética, violência. Só este ano perdi a fé na humanidade milhares de vezes. Obrigatoriamente a recuperei, pois não é possível viver nesse mundo louco sem esperança.
Mais de uma vez por semana lembro-me dos versos de Cazuza “eu vejo o futuro repetir o passado”, e fico triste pelos professores de história que, apesar de todo esforço, não conseguem fazer com as pessoas deixem de cair nas mesmas armadilhas do passado. O ser humano é infalível na arte de errar mais de uma vez a mesma coisa. Seja na vida amorosa, acadêmica, profissional, política, econômica.
Muitos de nós preferimos caminhos já traçados, o conforto do que é conhecido, o aconchego das mesmas decisões, ainda que nos levem aos mesmos resultados. Talvez por isso elegemos os mesmos candidatos, nos relacionamos com os mesmos tipos de pessoas, vamos aos lugares de sempre, repetimos sabores, autores, bandas de música. Queremos mudança sem ter que mudar.
Com um novo ano se aproximando estou aqui fazendo minhas reflexões e concluí que não quero ser aquela pessoa, que além de fazer sempre as mesmas coisas julga que só há uma maneira certa de fazê-las: a sua. Aquela que tem razão sobre tudo, que conhece todas as dores da humanidade sem ter passado por elas, que sabe o que é melhor para todas as pessoas, que acredita que a mesma fórmula valha para todas as vidas da face da terra, que dá conselhos sem que seja solicitada para isso.
Decididamente eu não quero ser aquela pessoa que faz piadas preconceituosas, que chuta quem já está caído, que não tem como ajudar e ainda atrapalha, que toma as suas vivências e experiências como sendo as únicas corretas, que divide o mundo em certo e errado. Aquela que é só convidada por educação e deixa os familiares incomodados com tantos comentários inadequados.
Quero ter uma mente que se atualiza com o passar dos anos. Que não para no tempo. Que tem disponibilidade para conhecer novas ideias. Que ouve as pessoas sem julgamentos. Que não acredita que o passado que era bom e deseja voltar atrás. Eu quero uma mente que se renova. Que perceba que o meu tempo é agora.
Se o passado tivesse sido tão bom quanto bradam alguns, não estaríamos vivendo esse caos. E, diante disso, não podemos cair na tentação de esperar que as próximas gerações, filhas do nosso hoje, juntem os caquinhos do nosso fracasso e consigam fazer um mundo extraordinário amanhã. Nós já não estamos conseguindo fazer muita coisa boa.
Não dá para esperar por mudanças sem mudar. Não dá para mudar com uma mente engessada, pequena, retrógrada, desrespeitosa, convicta de que sabe tudo e que não dá espaço para o novo. E eu quero uma mente que se expanda. Que não pare em 2015. Que aprenda com os erros e não os repita. Que viva. Que aprenda. Que questione. Que não tenha vergonha de mudar de ideia. Que se permita tentar ser um pouco melhor a cada dia.
Eu quero uma mente inacabada. Permanentemente em construção.
A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.
Albert Einstein