Entendo quem não deseja ter filhos, não tem vontade de paparicar ou pegar no colo uma criança fofa, que se irrita com choro infantil, que prefere lugares onde crianças passam longe. Do fundo do meu coração, eu entendo. Mas nunca vou entender aqueles que menosprezam e desrespeitam as crianças.
Vivemos em uma sociedade que relega à criança – e também às mulheres, mas isso é tema para outro dia – uma condição menor, inferior, sem importância. Consideram que devido a pouca idade e a dependência que têm dos adultos, não merecem ser respeitadas.
Basta olhar para os lados e verificar que as crianças têm seus sentimentos negligenciados e desconsiderados, como se fossem menores e menos importantes do que os dos adultos. Suas ideias e considerações sobre a vida não são levadas em conta, pois os adultos acreditam que elas não sabem muita coisa.
Constantemente os pequenos são orientados a “deixar para lá”, a não falar sobre determinado assunto, a ficar quietos no seu canto. Pouco a pouco os adultos, os maduros, os responsáveis, lhe negam o direito de participar, intervir, opinar e ver o mundo de sua maneira própria e particular. Silenciando as crianças e ignorando o que sentem estamos impedindo que exponham suas necessidades, façam escolhas, integrem os ambientes do qual fazem parte.
Aliás, os lugares públicos estão cada vez mais hostis com as crianças. Elas não podem fazer barulho, chorar, fazer perguntas ou, simplesmente, estar em algum lugar que já tem adulto olhando apreensivo. E ainda fuzilam as mães com olhares constrangedores, como se cometessem um crime só por estar com uma criança nos braços.
Esses adultos que acham que crianças não devem ocupar os espaços públicos não foram crianças um dia? Crianças fazem parte do mundo. Devem ser aceitas e respeitadas. Além disso, muitas vezes a fala da criança é ignorada e desacreditada. Quantas vezes as crianças relatam situações que os adultos nem se dão o trabalho de averiguar? Que dizem logo que foi só imaginação ou é mentira?
Não defendo que as crianças devem determinar a rotina da família, fazer tudo o que querem e ter todos os seus desejos atendidos. Defendo que ouvidas, acolhidas, tenham suas perguntas respondidas, seus sentimentos respeitados e possam se desenvolver emocionalmente. Até mesmo casos de maus tratos e violência doméstica seriam mais rapidamente identificados se as crianças fossem simplesmente ouvidas.
Para quem ainda não se deu conta: criança também é gente.