Quando se trata de relacionamento amoroso a maioria das pessoas, se não todas, desejam encontrar alguém em quem possam confiar, desabafar e contar tudo que lhe vêm à cabeça. Sem reservas. Mas podemos dizer qualquer coisa, de qualquer jeito, a qualquer hora? Eu penso que não, principalmente em momentos de conflitos.
Existem, sim, discussões saudáveis. Mas há uma fronteira muito pequena entre elas e as discussões perigosas. O que diferencia uma da outra? O falar qualquer coisa, de qualquer jeito, a qualquer hora. Aproveitar um momento de descontentamento e divergência para despejar tudo que vem a mente.
Nenhum de nós está imune a possibilidade de magoar a pessoa amada. E, verdade seja dita, já magoamos e fomos magoados. Falar sem pensar, agir por impulso, acreditar que a convivência e o tempo de relacionamento permitem agir de qualquer maneira aumentam ainda mais essa possibilidade.
Agir de forma ponderada, ainda que seja difícil em momentos de desentendimentos, é necessário para a saúde da relação. Aproveitar a fúria para fazer afirmações como “você só me chateia”, “me deixa em paz”, “você só fica feliz quando briga”, “você nunca faz nada direito”, não vão levar um diálogo.
Muitas vezes a despreocupação com a forma de falar gera discussão, ainda que o comentário tenha sido feito com a melhor das intenções. “Você está uma baleia”, “já se olhou no espelho?”, “você está descuidado(a)”, por exemplo, são afirmações que, geralmente, não ajudam em nada. Assumir uma postura agressiva com desculpa de que está agindo com sinceridade não favorece mudanças que podem ser benéficas para a saúde e bem-estar do outro e da relação.
Em alguns momentos a pessoa que está ao nosso lado não precisa de sermões nem de empurrões, mas de colo. Esteja lá. Para ouvir, abraçar, acolher, ajudar. E falar, de maneira amorosa e cuidadosa, quando for preciso.
Falar o que sente, demonstrar suas emoções, explicitar o que incomoda é muito importante em um relacionamento amoroso. Mas entenda que ser honesto, sincero e transparente não significa ser grosso, não ter tato e não se importar com os sentimentos do outro.
Publicado no Amor Crônico em 21 de junho de 2019.