Marcas, dores e doenças da traição

Há tempos atrás, enquanto fazia as unhas no salão de beleza, não pude deixar de ouvir o relato de uma cliente ao meu lado: uma vizinha, grávida, descobriu que estava com o vírus HIV. Casada há anos, pegou com o marido, que não teve outra opção a não ser revelar que frequentava um prostíbulo e ficava com a mesma mulher há anos. A esposa nunca desconfiou.

Quando a cliente do salão contou esse caso tanto o homem quanto a mulher já tinham morrido vítimas da AIDS. E a filha, que nasceu com o vírus HIV, morava com os tios e já apresentava sinais da doença. Uma menina doente por inconsequência do próprio pai, que deveria cuidar dela, zelar pela sua saúde e se preocupar com o seu futuro.

Infelizmente, são muitos os casos de mulheres que adquirem o vírus HIV dos próprios parceiros. Como no relato da cliente do salão, muitos homens saem com outras mulheres sem sequer se preocupar com a possibilidade de pegar uma doença, não usam preservativos e transmitem doenças para as suas parceiras.

Tempos atrás, por indicação de uma amiga, assisti o documentário Positivas, de Susanna Lira, sobre a experiência de mulheres que contraíram o vírus HIV de seus maridos ou parceiros estáveis. Mulheres heterossexuais, “protegidas” por relacionamentos estáveis e contaminadas pelo vírus HIV. Ou seja: histórias assim são muito mais comuns do que podemos imaginar.

Diferente do que muitos ainda pensam, a Aids não está ligada a relacionamentos promíscuos nem a homossexualidade. Pensar assim é puro preconceito. Preconceito esse que deixa as pessoas ainda mais frágeis e suscetíveis a adquirir doenças sexualmente transmissíveis.

Eu nem consigo imaginar a dor de uma mulher que descobriu uma traição ao ser diagnosticada com uma doença. Deve ser estarrecedor. Por que a pessoa, além de trair, não se previne? Como não se preocupa se vai pegar uma doença e transmitir para o parceiro? Ou o próprio filho, como a história que iniciou essa crônica? Fico escandalizada com a falta de responsabilidade que as pessoas têm. A capacidade de expor ao perigo os próprios companheiros que dizem amar.

Se você ama alguém deve se preocupar com o impacto de suas ações na vida do outro. Deve cuidar de si mesmo, respeitar o próprio corpo, preservar a sua saúde. E fazer o mesmo pelo parceiro. Pessoas que se amam cuidam umas das outras. Não agem sem pensar nas consequências nem expõem a qualquer risco aqueles que o amam.

O amor não é egoísta.

Crônica publicada no Amor Crônico em 14 de novembro de 2016.

Sobre a autora Todas as publicações

Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published. Required fields are marked *