“Eu sei que você não acredita, mas trouxe para você”, disse minha amiga de trabalho ao me entregar uma fitinha de Nossa Senhora Aparecida. Não sou religiosa – dessas que vão à missa, tem santos de devoção e andam com a bíblia embaixo do braço. Religião e religiosidade são coisas diferentes, embora a sociedade insista em pensar o contrário.
A fitinha trouxe muitas lembranças, justamente numa fase em que meu saudosismo está à flor da pele, como típica canceriana que sou. Já visitei Aparecida do Norte com meus pais, quando criança e fiquei feliz por ter sido lembrada, enquanto ela passeava com sua família.
Um sentimento de alívio também invadiu-me: em algum lugar, rezam por nós. Enquanto escrevo, milhares de pessoas, independente de suas crenças, estão pedindo por um mundo melhor, mesmo que outras tantas como eu não saibam ainda em que acreditar.
**********
Bem no Fundo
No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto
a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela – silêncio perpétuo
extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais
mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear o problema,
sua senhora e outros pequenos probleminhas.
Paulo Leminski
**********
O Censura Zero continua!