Iria escrever sobre a minha filha Rosinha, uma jabuti linda, grande, nada lenta, que vive conosco há mais de quinze anos, quando lembrei que a minha irmã nunca gostou de animais. Desde pequena. Fui eu quem escolhi o nome de todos os cachorros que tivemos, porque era eu quem chorava dias intermináveis tentando convencer meus pais a adota-los.
Sempre gostei de cheiro de terra molhada, de rosas brancas e vermelhas, de plantar e colher, de animais e bonecas. Ao ser apresentada ao fantástico mundo das palavras, apaixonei-me por poesia. E sou viciada em Mário Quintana, Carlos Drummond e Fernando Pessoa até hoje. Minha irmã nunca foi uma leitora voraz. Sempre teve habilidade com jogos eletrônicos, gostava de andar de bicicleta e patins, e preferia jogos a bonecas – que também tinha aos montes.
Somos diferentes. Muito diferentes. E nossas diferenças sempre foram objeto de discussão e aprendizado, porque o certo e o errado não existem. Não existe verdade absoluta. Já discutimos muitas vezes, mas nunca nos agredimos fisicamente, porque, como eu, ela acredita que só utilizamos a força física quando os argumentos foram extintos. E somos inteligentes o bastante para discutir no campo das idéias.
Conquistamos a amizade uma da outra, por uma razão muito simples: nos respeitamos. Nosso relacionamento seria muito mais fácil se gostássemos das mesmas coisas, se concordássemos sempre uma com a outra. Mas as diferenças nos tornam melhores, nos fazem crescer e aprender. Todos os dias.
Hoje tenho a felicidade de conviver com uma irmã adorável, que amo muito, admiro demais e respeito imensamente. Com quem sempre me entendi muito bem. Dividimos o quarto durante muitos anos e dividimos a vida até hoje. Ela é a madrinha do meu filho, minha amiga e às vezes conselheira.
Isso prova que diferenças não são barreiras intransponíveis. São oportunidades de crescimento e descoberta – nos redescobrimos, sim, quando nos confrontamos.