Por mais que a gente não viva procurando um grande amor, cedo ou tarde aparece alguém especial, que faz o coração bater mais forte. Alguém com quem a gente se diverte e faz confidências. Alguém que a gente admira e deseja. Alguém em que a gente acredita, respeita e deposita confiança.
Até aqui nenhuma novidade, a gente sempre se apaixona outra vez. O coração já está cheio de remendos, e desilusões foram muitas, mas não há quem deixe de acreditar no amor. E ainda está para nascer alguém que tenha controle total sobre seus desejos e consiga impedir que os sentimentos ajam por conta própria.
A novidade é por conta da internet, que já faz parte de nossas vidas e, querendo ou não, de nossos relacionamentos. Por exemplo, o famoso orkut. Tem sempre uma amiguinha cheia de intimidade, uma colega fazendo um convite e uma mulezinha que você sabe que ele já pegou, deixando um recado. Não se trata de ciúme doentio. Mas equilíbrio e serenidade têm limite.
“Um cuida do outro, pode ser?”. Não minha filha, não pode. Dele, cuido eu. “Quando você vai vir para cá?”. Ele vai em breve, querida, mas acompanhado. “”Oi, meu lindo, tudo bem?”. Que ele é lindo eu sei, mas que ele é seu foi novidade. Não eu não respondi isso a elas, ficou atravessado.
Sem contar que a gente ainda se dá o trabalho de ir até a página da dita-cuja ver se o amor de nossa vida respondeu. Pode admitir que fica aliviada se ele não respondeu. Pode admitir também que ficaria a ponto de cortar os pulsos se ele deixasse um oi por lá.
Tem também o nosso orkut. “Passei só para deixar um beijo”, “Oi, sumida, estou com saudades!”, “Namorando, é?”. Por que raios essa gente que mal me conhece, que só me adicionou para aumentar o número de amigos deixa um recado desses? Você explica, ele aceita com cara de que não ficou muito convencido e o namoro volta ao normal.
Quer dizer, nem o ciúme é normal nessa era cibernética. Pode-se considerar traição uma conversa mais picante com aquelezinha no msn? Há divergências. Mas meu namorado que não se atreva a praticar sexo virtual por aí! Ou não que eu saiba.
Todo mundo tem e-mail, todo mundo tem msn, todo mundo tem skype, todo mundo tem orkut. Se não tem é considerado indigente virtual. Tudo é fácil, rápido, ágil, efêmero. As informações circulam quase a velocidade da luz. Se no tempo de nossas avós mentira já tinha perna curta, imagina agora.
Quem não sabe de casos em que a pulada de cerca veio à tona, porque o Zé Mané tem orkut? Ou porque a mulher descobriu um e-mail qualquer? Graças a Deus até hoje não aconteceu comigo – levar chifre dói, mas levar chifre e todo mundo ficar sabendo, dói muito mais.
Andamos de mãos dadas, trocamos beijos apaixonados, apresentamos nossa família e nossos amigos, fazemos planos, juramos amor eterno. Somos apenas mais um casal como tantos outros. Um casal pós-moderno, que já mudou até o perfil no orkut. Sim, estamos namorando. E todo mundo sabe.
Foi-se o tempo em que nossas vidas eram um livro aberto. Agora é um orkut mesmo.
(E em tempos modernos, até que o orkut nos separe.)
Idiotilde