Dar ou não dar?

Tradicionalmente os homens sempre quiseram mais sexo e as mulheres, um relacionamento. Também pudera, a maioria de nós cresceu ouvindo a mamãe dizer cuidado com a mão boba dos meninos, cuidado com os amassos. Mulher tem que se preservar os homens, por mais que o mundo tenha mudado, devem comer o maior número de mulheres possível.

Passei a adolescência toda tentando entender a matemática dos pais: os homens precisam comer todas as mulheres e as mulheres não podem dar – alguém tem que ceder, não é? Antigamente era muito fácil: as mulheres davam o sexo em troca de um contrato assinado, o casamento, mas as coisas mudaram bastante de um tempo pra cá e, hoje, fazemos questão de experimentar para não comprar gato por lebre, não é verdade?

Deixamos de ser menininhas faz tempo, estudamos, trabalhamos, pagamos nossas contas, dirigimos não só o próprio carro, como a própria vida e a dúvida persiste: dar ou não dar? Dar logo de cara significa ser tachada de fácil, não dar pode ser interpretado como frescura e, neste caso, ele pode virar as costas para encontrar outra mais disponível.

Toda mulher, em algum momento da vida, já ficou se remoendo por dentro depois de ter ido para cama com alguém que mal conhecia e já esperou que o cara ligasse depois de uma noite daquelas
(e xingou todas as suas gerações porque a ligação tão esperada nunca chegou a acontecer).

Homem separa com mais facilidade essa coisa de amor e sexo. Na cartilha da conquista masculina deve estar escrito, em algum lugar, que tudo é válido para levar mais uma para cama. Prometer mundos e fundos, se sujeitar a todos os caprichos, dizer que ama e o escambau (tudo bem, exagerei agora, mas vocês entenderam o que quis dizer)

Não temos a pretensão de ir para cama só por amor, algumas, inclusive, já estão agindo como agem os homens. A maior parte, no entanto, ainda são mais românticas e sonhadoras do que eles e me encaixo neste último grupo. Aquele grupo que quer mais do que sexo, que acredita que somos mais do que um pedaço de carne e faz questão de uma pitada de romance e fantasia.

Ser mulher é muito mais difícil do que imaginam, precisamos ter muito jogo de cintura para lidar com essa saia justíssima que é a sexualidade. Concordo que é ridículo rotular as pessoas. A santa, a piranha, a que serve para namorar, a que só serve para ficar e assim por diante. Mas isso ainda existe e resiste ao tempo. E disso a gente sabe.

Não podemos ser dependentes, mas independência demais assusta, não podemos fazer cu-doce, mas libertinagem demais afugenta. O que fazer, então, se aquele deus grego que acabamos de conhecer abalou nossas estruturas, povoa nosso imaginário e é nosso desejo de consumo não daqueles descartáveis?

Sei que esse texto está mais para revista Capricho e o tema é muito batido, mas quem nunca se perguntou, em algum momento da vida, se devia dar ou não, que atire a primeira pedra. Isso sóprova que, no que tange a sexualidade, ainda estamos muito primitivos. Homens e mulheres.

Idiotilde

Sobre a autora Todas as publicações

Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published. Required fields are marked *