Ex-namorado é amigo?

Tenho consciência de que não sou uma pessoa civilizada. Sinto muito, lamento imensamente, mas ficar amiga de ex, daquele ex que me iludiu, me decepcionou, feriu meu pequeno coração e fez com que eu chorasse até que as lágrimas secassem, é demais pra minha cabeça.

Partindo deste princípio, eu não sei por onde andam os homens com quem namorei. Se casaram, se foram morar em outro país, se estão ricos ou morrendo de fome, se tiveram filhos ou descobriram que são inférteis. Como já dizia o Rei: “o tempo transforma todo amor em quase nada”.

Eu me defendo e me afasto, na tentativa de evitar ainda mais dor e sofrimento, porque o fim é sempre dolorido. Como nem tudo na vida é simples, essa fórmula não funciona para todos. Tem sempre aquele que se recusa a ir embora, que faz questão de fazer-se presente, que quer porque quer, ser seu amigo. Ser amiga de quem ainda balança suas estruturas, de quem ainda desperta seus desejos, de quem você ainda sente ciúmes?

Já vivi um pós-relacionamento conturbado. Eu quis simplificar as coisas, dizer logo adeus, virar as costas e transformá-lo em um estranho. Tinha feito isso outras vezes e deu certo, mas ele não me deixava ir embora, mesmo não querendo ficar. E eu queria que ficasse, mesmo sabendo que ele precisava ir.

No início eram ligações despretensiosas para saber se tudo estava bem, depois vieram torpedos amorosos e troca de e-mails. No msn longas conversas, algumas em que terminávamos dizendo que estávamos com saudades, como acontecia nos tempos de namoro. Conversávamos todos os dias. Religiosamente.

Nessa fase que as coisas começaram a complicar, porque estávamos vivendo apenas a separação de corpos. Dávamos satisfação um ao outro de tudo o que fazíamos, exigíamos milhares de coisas e sentíamos ciúmes. Brigávamos, como um casal de namorados. Sem que fôssemos namorados. Daí para os encontros foi um pulo.

Depois de ter sido namorada, não é fácil se sujeitar a condição de ficante. Até porque, neste caso, não há como vislumbrar um romance digno de contos de fadas, porque o príncipe virou sapo e a carruagem já virou abóbora uma vez.

Relacionamento sem cobranças, amizade colorida, só sexo e amizade só é possível quando não há sentimento envolvido. Entre ex é uma grande roubada. Uma grande armadilha. Um círculo vicioso que, se duvidar, em pouco tempo vira uma doença crônica, dessas que tratamentos terapêuticos amenizam, mas não curam.

Toda relação amorosa tem início, meio e fim, pelo menos enquanto não encontramos nossa alma gêmea. Impedir que outro vá e se recusar a seguir adiante, só traz uma sensação de vazio ainda maior. Foi o que aconteceu conosco e nossas migalhas, servidas em doses homeopáticas, simulando um banquete dos deuses.

Ninguém quer um relacionamento mais ou menos, um amor pela metade, um romance meio-boca. Não há mulher que mereça. Mas, em algum momento da vida, a gente aceita. Por amor, por apego, por ego, por carência, por vaidade. Por falta de amor próprio.

Eu sei que ex é para sempre, mas os meus eu quero bem longe!

Idiotilde