Coelhinho da Páscoa, o que trazes pra mim?

Olhando de forma superficial para o passado é difícil entender como fui me apaixonar pelo Ogro. Um cara bronco, machista, que tinha ciúmes da própria sombra. Foi uma relação conturbada que poderia ter como trilha sonora a breguíssima sertejana “Entre tapas e beijos” – sem os tapas propriamente ditos.

Éramos adolescentes, com poucas experiências amorosas no currículo e a certeza, vinda não sei de onde, de que aquele amor (e era amor?) seria eterno. Ele era o homem da minha vida. Eu a mulher da vida dele. Tínhamos certeza, mesmo a convivência demonstrando exatamente o contrário.

Um amor que beirava doença. Ele surgia na porta do meu colégio para me vigiar, sentia ciúmes de todos os meus amigos, implicava com minhas roupas e mais um monte de coisa digna de boçal, que, apesar de aturar, não aceitava e não me submetia. Mais brigas e muitas lágrimas, nem sei como não desidratei durante aqueles meses de namoro.

Por falar em namoro, acho que passamos mais tempo separados do que juntos, já que declarávamos o fim diversas vezes por semana. Acontece que ele sempre vinha com uma lágrima de crocodilo nos olhos, umas frases de impacto, um buquê de rosas vermelhas que eu amo de paixão ou uma caixa de bombons. Ah, sim, geralmente acompanhadas de uma carta com palavras bonitas. Se hoje, a gente ainda cai nessas armadilhas, imagina aos 15 anos de idade.

Tudo bem que ele tinha ido viajar sem que eu soubesse, tudo bem que ele recebeu telefonema daquela mulherzinha petulante, tudo bem que o futebol demorou mais do que deveria, tudo bem que ele não me chamou para ir naquela festa e eu não gostei. Mas confessa que é difícil resistir quando ele está ali, falando que vai mudar, que nunca mais vai acontecer, que ama incondicionalmente.

O namoro ia assim, a trancos e barrancos. Incomodava nossas famílias, atrapalhava nosso dia a dia, era uma relação de amor e ódio, de querer e não querer, de brigas e pedidos de perdão. Quase diariamente. Claro que todos os amigos, familiares, vizinhos e fofoqueiros de plantão diziam que aquele caso era perdido. Mas e daí?

A verdade é que todos tinham razão. Mas mulher apaixonada ouve alguma coisa a não ser seu próprio coração? Nada! Até porque, ele sabia dispensar um elogio no momento certo, percebia qualquer centímetro a menos nas minhas madeixas, chegava com um bichinho de pelúcia sem que fosse data comemorativa e amenizava minha TPM com bombons de licor de cereja.

Por falar em bombons, foi na Páscoa que eu me dei conta de que ele não era mesmo o amor para vida toda. E nem era tão observador quanto eu imaginava. Ele sempre soube que sou chocólatra, não vivo sem chocolate e como uma barra por dia. Ele via meus chocolates e me enchia de bombons.

Foi de sacanagem. Só pode ter sido. O que leva um namorado que te conhece e sabe do que você gosta a te dar justamente algo que você não vai suportar? Foi exatamente o que Ogro fez ao aparecer com um Ovo de Páscoa lindo, enorme e…de chocolate branco!!!!! Vamos combinar? Chocolate branco não é chocolate.

O namoro acabou. Acabou, porque aquele chocolate que nem comi me fez entender que para um relacionamento dar certo não precisamos de brigas gigantescas para fazer as pazes depois, em clima de novela mexicana, e jurar que tudo vai ser diferente. Precisamos de pequenos gestos e demonstrações de amor. Precisamos de atenção.

(Naquela Páscoa eu renasci.)

Idiotilde

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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