Sem conversa fiada

A primeira vez que tive que terminar um namoro ensaiei durante uma semana. Queria as palavras certas, o tom de voz mais adequado a justificativa mais compreensível e cheguei a planejar o nosso diálogo. Só que eu comecei a falar e ele emudeceu, não se movia por nada, não esboçou reação. Um verdadeiro fiasco!

A matemática do relacionamento amoroso é assim: algumas vezes entramos com o pé, em outras com a bunda. Mas (peloamordedeus!) tem gente que não tem sensibilidade para amaciar o chute. É horríiiiiiiiiiiiiiivel terminar com quem gosta da gente, mas pior do que fazer a pessoa de panqueca e ficar enrolando, só mesmo evitar o encontro do adeus.

Agora, com vocês, os melhores, digo, piores, chutes que já levei até hoje:

E-mail. Mandei um e-mail super fofo pro meu namorado, com algumas sugestões para o nosso fim de semana e, ao ler a resposta, só não caí porque esta sentada. “Estive pensando em nós dois e fiquei triste, somos muito diferentes um do outro e blá, blá, blá…” Perai, né? Diferentes onde? Como? Por que isso agora? Liguei. Fui na casa e, claro terminamos.

E-mail é covardia.

Sumiço. Estávamos juntos há mais de um ano, numa festa de família ele inventou que estava passando mal e foi embora. Horas depois ligo preocupada e o infeliz não estava em casa. Ainda tive que ouvir a mãe dele dizer “Id, ele saiu daqui para ir à festa na sua casa, não está aí?”. Sim, ele me deu explicação, dias depois, porque EU liguei e exigi. Por ele, teria sumido, sem nada dizer, até hoje.

Chá de sumiço é covardia.

Torpedo. Sente o drama: duas mensagens de texto num domingo à noite, dizendo que não pôde ligar no final de semana, que estava confuso sobre o nosso relacionamento e tirou os dias para refletir. Conversa pra boi dormir, mas, na boa, torpedo é para dizer que está com saudades, mandar bom dia, boa tarde, boa noite. Coisas simples. E fofas – que não dão margem a outras interpretações.

Torpedo é covardia.

Telefonema. Pior que discutir relacionamento via linha telefônica, só mesmo levar um fora. Claaaaaaaaro que isso já me aconteceu (o que ainda não me aconteceu?!). Ele simplesmente ligou, disse que não poderia me encontrar naquele dia conforme havia combinamos e que não estava bem certo de que daríamos certo.

Telefone é covardia.

Infelizmente, o mundo está infestado de gente covarde e sem-noção, portanto, não tem como se proteger desses chutes. Um deles, pelo menos, todo mundo já levou. O máximo que podemos fazer é ficar atentas aos sinais. Presta atenção: dizer que está confuso, que não é o momento certo para um relacionamento sério, que você é boa demais para ele, que precisa de tempo para refletir, que é jovem e precisa curtir, é balela.

Caso esteja pensando em dar adeus a alguém, tenha em mente que, independente do motivo, é sempre difícil e doloroso. Isso não justifica fazer com os outros o que não gostaria que fizessem com você (lembra dos conselhos da mamãe?). Ensaie, escolha as palavras, planeje diálogo. Na hora você vai fazer tudo errado, a pessoa vai ter reações que sua imaginação não esperava, mas você terá sido honesta e justa. Ao menos, com você mesma.

Idiotilde

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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