Lanchinho da madrugada

Eu sei que é para frente que se anda e que figurinha repetida não completa álbum. Vivo dizendo isso às amigas e costumo seguir isso à risca, mas, como toda regra tem sua exceção, Dinamite foi um desses casos que, por mais que a mente insistisse em dizer não, o corpo já tinha dito sim faz tempo.

Foi assim: o namoro terminou, enxuguei as lágrimas, coloquei um sorriso no rosto e continuei minha vida, como se nada tivesse acontecido. Algumas vezes senti saudades e pensei em voltar atrás, mas eu havia deletado todos os contatos e tudo ficou por isso mesmo. Vontade é coisa que dá e passa!

Em pouco tempo, no entanto, Dinamite resolveu dar o ar da graça e balançar com minhas estruturas. Oi, tudo bem, o que tem feito, como você está, vai fazer o que hoje, quanto tempo, que saudades. Depois de conversarmos sobre o que faríamos naquele sábado à noite, chegamos a conclusão de que seria desconfortável dar de cara um com o outro na noitada.

Seguimos rumos diferentes para não correr o risco de parar nos braços um do outro e foi cada um pra um lado. Só que, lá para as tantas, ele resolve mandar um torpedo. Ah, gente, um torpedo super fofo. Depois outro e mais outro. Sou burralda escaldada, mas não resisti e caí na asneira de responder!

Nunca poderia imaginar que, a partir daquela troca de torpedos, eu me transformaria em seu lanchinho da madrugada oficial. Largamos nossos amigos para nos encontrar altas horas não só naquele dia, mas em muitos outros que vieram depois. Bastava um torpedo no meio da madrugada, um telefonema ou mesmo uma troca de palavras no msn e pronto. Lá ia eu.

Sabe aquela coisa de um dizer A, o outro B? Esquerda e direita? Rave e micareta? Preto e branco? Guerra e paz? Pois assim somos eu e Dinamite. Namorar era mesmo inviável, até porque, já tínhamos dado murro em ponto de faca uma vez e nos machucamos bastante. Não íamos mesmo passar por tudo outra vez.

A verdade é que na falta de coisa melhor pra fazer, ficávamos juntos e, verdade seja dita, o ex em questão é divertido, bem-humorado, inteligente e super bonito, com direito a barriga tanquinho e braços fortes – ai, ai, como resistir a uma tentação dessas? Mais uma noite apenas e nada mais. Uma, duas, três, várias.

Uns diziam que era falta de amor próprio, que era burrice, que Dinamite não passava de um cafajeste que só queria me usar. Eu também usei e abusei. E avisei. Foram boas todas as noites que passamos juntos e matamos nossa sede na saliva.

Acontece que a burralda romântica não sabe pegar sem se apegar e, vira e mexe, começava a pensar aonde ele estava antes de nos encontrarmos e para onde iria depois, mesmo que tenha sido o relacionamento mais sincero, mais aberto, mais verdadeiro e mais amigo que já tive. Por mais estranho que isso possa parecer.

Idiotilde

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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