Esperar o que?

Quando pequena eu e minha mãe discutíamos por causa de sua mania incoerente de guardar coisas novas para usar numa data especial. Eu pegava os novos talheres e utilizava-os na hora do almoço, quebrava copos que não deveriam ser usados sem querer e no tão esperado dia que podia ser um aniversário ou um jantar de família eu não tinha nenhum novo edredon para colocar na minha cama.

Não sei esperar o dia de usar aquele vestido, aquela sandália, aquele biquíni, aquela lingerie, aquele edredon, aquela almofada, aquele perfume, aquele sapato, aquela bolsa, aquele batom, aquele prato, aquela taça. Deu vontade, eu vou e uso.

Sou assim também com as palavras. Ao Lucas digo, todos os dias, Eu te amo. Às vezes, para implicar, ele pergunta se não tenho outras frases. Não, não tenho. E continuo repetindo essa, desde o dia em que nasceu. Se fosse esperar, quando eu diria eu te amo? Que dia? Que horas? Por qual razão?

 

Não sei esperar o dia para isso ou aquilo.

Para mim todos os dias são iguais: diferentes e especiais.

 

(Foram poucas as vezes que me arrependi. Do que falei. Ou do que fiz.)

***

Muito ansiosa.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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