A vida continua. Apesar da violência, da desigualdade social, do Lula e do Bush, da miséria, da fome, do tráfico de drogas, da guerra dos caça-níqueis, do analfabetismo. Diante dos problemas que assistimos todos os dias chega a ser ridículo dispensar lágrimas por desilusão amorosa. Passo diariamente pela linha amarela e não fui atingida por nenhuma bala perdida. Trabalhei no Centro da cidade e nunca fui assaltada. Tenho casa, comida, roupa e lavada. Saúde para dar e vender. Um filho mais lindo que tudo. Uma irmã que amo de paixão. Amigos que me aturam com os nervos à flor da pele a qualquer hora do dia ou da noite. Então, envergonhada, enxuguei minhas lágrimas. Fui comer pizza. Fazer compras – um par de sapato sempre massageia o ego. Receber os amigos. Ligar para os amigos. Visitar Giovanna, linda, linda, perto de fazer um mês de vida. E ela me fez lembrar que sempre é tempo de recomeçar. Que a gente recomeça, e renasce, muitas vezes nessa vida. Discuti aquecimento global. Bebi caipirinha de morango e uma taça de vinho suave. Comi pipoca com as crianças. Perfeito. Ou quase. Por mais que tenham problemas muitos maiores do que o meu, por mais que eu seja realmente uma pessoa abençoada, eu também estou sofrendo. Disfarço. Finjo ser tão forte quanto pensam que sou. Reforço a maquiagem, não saio do salto, piso firme e não olho para baixo. Super segura. Hiper bem resolvida. Convenço a mim mesma. Convenceria por mais tempo se chegasse em casa e o cd não estivesse tocando. Me namora. Big girls don’t cry. Mil acasos. O que eu também não entendo. Tôo litle, too late. Ainda tem as iniciais dos nossos nomes na capa – é para morrer agora ou escuto mais uma faixa antes? Ainda tem pior: chegar no trabalho, abrir a gaveta e se deparar com uma caixa de Deditos. Eu não vejo a hora disso tudo acabar. De uma maneira ou de outra.
À você, que lê esse blog: se eu tivesse te tatuado no pulso seria mais fácil de apagar.