“Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de
que está lendo a gente…e não a gente a ele!”(*)
Eu sempre gostei de poesia. Escrevia muitas, todos os dias, numa tentativa de traduzir em palavras o que se passava em minha alma inquieta e desassossegada. Queria ser muitas em uma. Como somos, verdadeiramente. Boa. Má. Feia. Bonita. Calma. Nervosa. Inteligente. Ignorante. Verde e Rosa e Azul e Branco. Vida. Morte. Sol e chuva. Céu e Mar. Bipolar, não. Canceriana.
Brincava de pique, brigava com os meninos na rua, pegava cachorrinhos abandonados pra criar, assistia show da Xuxa, usava Melissa, colecionava papéis de carta, trocava figurinhas dos ursinhos carinhosos e, nas horas livres, me refugiava do mundo com meu lindo caderno e umas canetinhas coloridas. Era hora de escrever. E eu enfiei na cabeça que escrevia bem.
Fui uma ótima escritora. Até os 12 anos, quando li Clarice Lispector e me dei conta de que jamais consegueria escrever o que as pessoas sentiam, ainda que não soubessem o que sentiam. Ela me desestimulou a escrever, mas foi Mário Quintana que me fez desistir. Eu não sei (e nunca soube) fazer poesia.
Mário Quintana me conhece mais, muito mais, do que Clarice Lispector. Foram escritas para mim todas as suas frases. Poderiam ter sido escritas por mim todas as suas frases. Até as frases que ele escreveu antes mesmo no meu nascimento são minhas – porque todo mundo é tão simples e tão rico quanto um belo poema.
(*) Quintana, Mario. A vaca e o hipogrifo/por Mário Quintana; Porto Alegre: Garatuja, 1977.