Tudo tem limite

É importante para dizer que não me sinto atraída por homens que fumam feito chaminé, embora já tenha beijado alguns cinzeiros ambulantes, fujo dos pinguços como o diabo foge da cruz, porque não entendo esse prazer pela cachaça e odeio homens irresponsáveis. Viver é coisa séria.

Deve ser por isso que volta e meia eu acabo me envolvendo com um aficionado por malhação, que fica deprimido se deixa de ir a academia um dia sequer e gosta de esportes radicais. O que uma coisa tem a ver com a outra? Eu também não sei. Vai ver meu inconsciente acredita que se alguém se preocupa com a sua própria saúde e beleza, vai se preocupar mais com o outro também.

Já me apaixonei – quase perdidamente – por um lindo par de olhos azuis que tinha mania de me ligar para dizer quantas calorias tem cada unidade de bis. Já fiquei com um professor de academia que insistia para eu aderir à musculação, que odeio com todas as forças. Já me envolvi com um surfista 15 anos mais velho, com direito a dragão tatuado no braço, que só bebia água mineral. Já me interessei por um DJ que após às 18h não ingeria carboidrato de jeito maneira.

Aprendi a gostar de comida japonesa, a tomar chá verde, a comer sanduíches naturais, a caminhar na praia. No entanto, como chocolate todos os dias, troco qualquer refeição por um big mac, me dou o direito de ficar longe da academia por meses seguidos e zerar carboidrato após às 18h é impossível para mim que não vivo sem pão – nem rodízio de pizza.

Uma única vez meus hábitos alimentares nada saudáveis aliados a uma dieta hiper regrada do meu affair culminaram no fim do relacionamento que nem chegou começar direito. Já tínhamos ido ao cinema, praia, festas dos amigos e mais um monte de programa que todo mundo está cansado de fazer, mas a primeira ida ao restaurante foi também a última.

Imagina a cena. O garçom pergunta o que vamos beber e eu, toda-toda, peço uma coca-cola. “Light, senhora?”. Não sei se ele queria ser cavalheiro, mas desconfio que era abusado mesmo, diz que sim. Eu rebato. “Não, comum mesmo”. E ali, em frente ao garçom, começa o discurso sobre os efeitos colaterais do refrigerante, a quantidade de calorias e os benefícios do suco natural. O garçom não sabia o que fazer.

Ele pediu um suco de abacaxi. Eu insisti na coca-cola, “com gelo e limão, por favor”. Não satisfeito, ele pediu mais um suco. Para mim, acreditam?! A comida perdeu a graça, o refrigerante não tinha mais sabor e tudo o que eu queria era que aquele jantar acabasse logo. Todo mundo merece alguém que respeite suas latinhas de refrigerante – no sentido literal. Ou não.

Idiotilde

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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  • Tem toda a razão! Também detesto quando algum bofe tenta manipular minhas escolhas. É o fim do jantar, ou qualquer outro programa que estejamos fazendo. E a manipulação não se limita somente ao refrigerante que a gnt vai beber, se estendendo da cor do seu esmalte ao tamanho do seu brinco! Quer dar pitaco, que ache outra burralda, porque euzinha não tolero!!!

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