Meu filho tem nome de santo

Eu não tive tempo em sonhar com a maternidade. Aos 17 anos estava grávida. E foi descobrir isso para amar aquela criança, que nem era uma criança ainda, de uma maneira que eu não imaginava que poderia amar alguém. Ficar grávida não é fácil – e na adolescência, como foi o meu caso, deve ser ainda mais complicado. Eu não sei. Não sei porque a partir daquele momento já era mãe. Eu Comprava roupinhas. Mamadeiras. Pratos e garfos, Lençóis. Toalhas. Fraldas. Brinquedos. Tudo azul. Era um menino, tinha certeza. Certeza confirmada num exame. Lia livros e mais livros com significados de nomes. Arthur, Caio, Thiago e Lucas. Gostava desses. Gostava, porque gostava. Não pelo significado que já nem sei. Mas só escolhi o nome no hospital, com o Lucas no colo. Ao meu anjinho, um nome de santo. Um anjo que até hoje só quer comer quando estou descansando. Só faz dever quando bem entende. Sabe mais de computador do que eu. Discute aquecimento global. Tem coleção de calculadora. Questiona todas as regras. Desenha plantas de casa. Sonha em ser engenheiro. E arquiteto. Que briga, xinga, se descontrola e se descabela. Que já teve fase de não querer banho. De não querer comida. E agora está na fase de não querer ser criança. “Sou pré-adolescente”, diz o sábio de 10 anos. Às vezes fico à beira de um ataque de nervos. Mas a gente conversa. Conversa. Conversa e conversa. Foi com o Lucas que aprendi, na prática, que ninguém é igual a ninguém. Mesmo que tenha o mesmo tipo sanguíneo, o mesmo sobrenome, tenha nascido do seu próprio corpo ou more na mesma casa. E a certeza de que os corações não são iguais torna a vida mais fascinante. E a maternidade uma função ainda mais intrigante. Não adianta bater. Amarrar ao pé da mesa. Jogar do 6º andar. Prender num porão. Isso não é amar. Amar é dar asas. É permitir. É delegar. É acreditar. É confiar. É fazer com que seu filho vá à escola, mesmo que não goste, porque se convenceu de que isso é o melhor. Para ele. Não para você, que já se formou, já trabalha e, se bobear já é até Doutora! É fazer com que escove os dentes, tome banho, diga por favor, obrigado e peça licença. Porque ele pode ser rebelde e questionador, mas não vive numa ilha e precisa lidar com gente. E só lida com gente quem é gente. É abraçar, beijar, dizer todos os dias que ama. Todo dia e toda hora. Para que ele não esqueça que pode voar alto e ir longe, mas tem sempre um colo para voltar. É aplaudir. Gritar. Torcer. E corrigir, porque não adianta apontar erros. Ridicularizar. Punir. O amor, sim, transforma as pessoas. Faz com que cresçam e tornem-se melhores. Eu nunca me achei uma mãe exemplar. E já ri muitas vezes quando disseram: você é a melhor mãe que conheço! Hoje continuo rindo. Com a diferença de que acredito plenamente. Quem tem um filho como o Lucas não deve mesmo ser uma pessoa qualquer!

A melhor mãe do mundo sou eu,

Porque o melhor filho é o meu!

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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