Reforma Ortográfica

Sou formada em Letras e Pós Graduada em Leitura e Produção de Textos, isso deveria me ajudar a entender essa Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa, mas não. Eu não consigo compreender uma porção de coisas. O trema já deveria ter ido para o espaço faz tempo, o k, y e w deveriam mesmo ser incorporados ao alfabeto já que o que não falta é nome americanizado Brasil afora e voo, ideia, leem, ficam mesmo bem mais bonitos sem acento. Eu achei.

Agora, me diz: quem teve a maldita ideia (sem acento, né?) de tirar o acento diferencial do para? Não tem lógica. Outro dia perdi um tempo enorme tentando entender uma manchete de jornal. Desisti. E só entendi depois que comecei a ler a matéria. Eu me senti tão burra, coitada de mim. Uma humilhação. Eu que li Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Machado de Assis, Carlos Drumond…não consegui ler uma manchete de jornal. 

Tenho lido bastante sobre o assunto, sabe. Eu, letrada, tenho que estar, ao menos, por dentro do assunto que virou crônica de jornais e revistas, discussões e já está presente até nas revistas fúteis que eu leio. A Nova, a Marie Clair, a Cláudia, todas já utilizam o novo acordo. Olha que chique. Só que eu nem sei mais onde devo pôr um hífen. De tudo que inventaram – para vender mais gramáticas e diconários, talvez – o hífen tem sido a parte mais difícil. Como vou me adaptar ao micro-ondas com hífen? 

A verdade é que tenho substituído palavras, recorrendo ao dicionário de sinônimos e resistindo às mudanças. Só que eu não posso mais. Preciso aceitar que a língua que aprendi, mudou. Como tudo nessa vida, ela também muda. O tempo todo, sempre, toda hora. Quem usava o trema, afinal? Eu já tinha extinto faz tempo. E muita gente nem sabia que ele existiu.

Esse acordo está longe, bem longe de estar perfeito e eu não estou gostando nada de ter que repensar cada palavra que escrevo, mas se tudo tem seu lado bom, acho que, neste caso, repensar é um deles, porque nossa Língua é nossa identidade. E, precisamos, sim, estar ao lado dela. Assim como precisamos repensar udo,  a todo momento, sempre.

Afinal, a vida não para. 

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

7 ComentáriosDeixe um comentário

  • Pense na reforma como uma espécie de nivelamento cultural. Antes voê tinha a cruel divisão entre os “intelectuais” que sabiam escrever eos analfabetos de pai e mãe, que geravam aquelas pérolas do Enem. Agora todos somos semi-analfabetos da mesma forma e quase do mesmo tamanho… e eu nem sei se “semi-analfabeto” tem hífen!

  • ai, menina, também sou formada em letras e me sinto obrigada a aprender, mas, pra falar a verdade, também estou achando muito confuso, principalmente o uso do hífen, várias palavras ainda estão indefinidas, tenho a impressão que nem eles sabem muito bem onde se encaixam. A única mudança que me agradou foi o fim do trema que eu também já não usava há muito tempo.

    bjs

  • Muito bom seu comentário. Lamento a sua situação e a dos profissionais da sua área…A coisa tá bem complicada mesmo… Outro dia chamei meu irmão que está (tem acento?)se formando em Letras e o coitado ficou pirado. E olhe que ele é bom.

    Eu tambem achava que escrevia bem…Nada de extraordinário, mas certinho…Será? tem vírgula nesta oração?
    Mas também achava que era jornalista. Agora vejo que sou é burra. Estudei muito.Trabalhei (o), enquanto não sou substituida por um cozinheiro, ou cabeleireiro…
    Tá difícil de entender a pátria amada, né?
    Boa sorte com essa sopa de letrinhas!!!!

  • Ótimo texto, Gi.

    Há um tempo atrás publiquei um texto do meu irmão no meu blog, ficou bem legal.
    http://raizquadrada69.blogspot.com/2008/07/acordo-ortogrfico.html

    Essa reforma ortográfica está me dando muita preguiça. Confesso que tenho um resumo das regras na bolsa, mas nunca olho. Ao contrário de você não gostei do voo e ideia. Pra mim, idéia vai ser sempre escrita com acento. Mas a idéia de tirarem os acentos diferenciais realmente foi de jerico. Só dificultou a vida.

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