União homoafetiva – Respeito se aprende com os mais velhos?

Estava hoje na aula de ginástica, ainda com sono e bocejando, quando uma senhora, aparentemente a mais velha da turma, parou o que estava fazendo para falar: “Vocês assistiram o Jornal Nacional ontem? Apareceu o casamento de dois homossexuais! É isso aí, adorei!” Ao completar a frase ainda bateu palmas.

Juro que isso não me surpreendeu. O que me surpreendeu foi outra aluna, que deve ser mais jovem do que eu, começar a falar que a mídia tem feito muito alarde sobre as uniões homo afetivas e que não se sentiria bem se chegasse num restaurante e encontrasse duas mulheres se beijando. Arrematou seu discurso com a frase, “eu não tenho nada contra, mas os gays estão querendo aparecer demais”.

Outra aluna concordou com ela, alegando que a homossexualidade é o fim da família, que as crianças estão sendo influenciadas pela mídia e que isso “não é normal”. A maioria, no entanto, desaprovou esse discurso. “Tantas famílias discriminam seus filhos quando descobrem que são homossexuais, e depois querem ficar com sua herança, é certo isso?”, perguntou uma. “Por que ser gay não é normal?”, perguntou outra. “Eu acho que todos têm os mesmos direitos e não vou me incomodar se duas mulheres trocarem beijos na minha frente”, arrematou a outra.

Fiquei estarrecida. Naquele pequeno universo, uma sala de ginástica de uma academia de bairro, as mais jovens eram também as mais intolerantes e preconceituosas. Isso mexeu comigo. Até então acreditava que nós, os jovens, fôssemos mais abertos, mais respeitosos e menos caretas e lá estavam as vovós apoiando o casamento homossexual, e jovens considerando um insulto.

Estou pensando nisso até agora: quem são os jovens de hoje? O que sabem sobre cidadania, tolerância e respeito? Lembrei que os homossexuais têm sofrido agressões…de jovens. Foi assim na Avenida Paulista, lembram? Não são os idosos, que julgamos quadrados, antiquados e antigos que ficam na rua, com lâmpadas e paus batendo nos homossexuais.

Sou mãe e, do fundo do meu coração, me preocupo é com as drogas e a violência. Não quero que ele se envolva com drogas, seja alcoólatra, torne-se irresponsável ou entre no mundo da marginalidade. Não quero que dirija alcoolizado, que falte aula, que agrida os colegas, que suma um fim de semana inteiro sem falar onde está. Quero que ele seja um homem bacana, solar, feliz.

Acho que estou na contramão dos dias atuais. Começo a perceber que para a maioria das mães fumar maconha, agredir homossexuais na Avenida Paulista, beber até cair, faltar aula, desrespeitar o professor, ou matar porque tirou nota baixa, é ok. É certo, é tolerável. Só beijar outro homem – ou outra mulher – é errado e inadmissível.

Eu não entendo esse mundo. Juro que por mais que eu tente não consigo entender. Na minha cabeça ninguém é melhor do que ninguém só porque ama alguém do mesmo sexo. Ou do outro. Acabei de lembrar da Myrian Rios com o seu ridículo e vergonhoso discurso, associando homossexualidade a pedofilia. Acho que ela não leu os jornais de ontem: um pai, heterossexual, cabe ressaltar, obrigava sua filha menor de idade a ingerir pílulas anticoncepcionais para violentá-la.

Hoje eu só queria que os jovens entendessem que o caráter de uma pessoa não pode ser medido pela sua orientação sexual e respeitar é admitir que as pessoas têm direito a pensar e agir de maneira diferente da nossa. Pelo que percebo, através do discurso da minha mãe, das suas amigas e das vovós da aula de ginástica, os mais velhos estão a um passo a nossa frente.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

2 ComentáriosDeixe um comentário

  • E eu percebi que meu comentário anterior pode servir para você interpretar qualquer coisa… então é melhor explicitar que meu desconforto é igual ao seu, não entendo porque as pessoas tem que se sentir tão incomodadas (ou atacadas, a ponto de acharem que estão “revidando”) com a forma como os outros vivem suas próprias vidas.

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