Entre irmãs

Eu não me lembro do dia em que minha irmã nasceu. Conta minha mãe que não tive ciúmes e queria cuidar dela, dar mamadeira, colocá-la no berço. E que isso representava um perigo eminente já que eu tinha apenas dois anos. Mas, ainda que ela tenha falado a verdade, toda essa vontade de cuidar da caçula já se transformou em vontade de exterminá-la algumas vezes.

Confesso que na infância gritei inúmeras vezes “eu preferia ser filha única”, “por que você nasceu?”, “eu cheguei primeiro!”. Mas era mentira, claro. Era da boca para fora e minutos depois estávamos juntas novamente, porque depois que você ganha uma irmã não imagina uma vida sem ela. Simplesmente porque não existe vida sem ela.

Ser filha única deve ter lá suas vantagens, mas ganhar uma amiga para compartilhar a vida tem muito mais. Uma amiga, uma advogada de defesa, uma personal style, uma coaching, uma companheira para qualquer tipo de programa e, no meu caso, uma segunda mãe para o meu filho. A quem faço questão de presentear no Dia das Mães.

Irmã é aquela pessoa que guarda um pouco da nossa história. Sendo pouca a diferença de idade, a minha conhece todas as cenas da minha biografia. Sabe exatamente quando pode ou não abordar cada uma delas. Como usá-las contra mim ou mesmo em que momento deve recordar momentos impagáveis só para rirmos um pouco.

É verdade que uma mãe conhece seus filhos, mas uma irmã conhece mais. Afinal, desde a infância ela é sua cúmplice, companheira, ouvinte. Certas coisas você só fala abertamente com ela, inclusive se queixar das pessoas que você mais ama na vida. Para piorar até nas horas em que você não fala a sua irmã sabe o que está acontecendo – seja bom ou ruim.

Eu e minha irmã somos completamente diferentes uma da outra. Tanto que às vezes me pergunto como isso é possível já que temos os mesmos pais, vivemos nas mesmas casas e estudamos nos mesmos colégios. Mas conviver com as diferenças uma da outra certamente fez com que aceitássemos melhor as dos outros.

A minha irmã gosta de música, toca instrumento, já fez teatro. Vê cores no mundo e acredita na arte como salvação para as pessoas. Isso faz com que eu acredite também. Começa do zero quantas vezes forem necessárias. Briga pelo que é justo. Sua cara de anjo esconde uma mulher destemida e corajosa, que roda a baiana onde for, se necessário for. É assim desde criança!

O mundo não é mais fácil quando você tem uma irmã, nem mais justo, nem mais bonito. Mas ganhar uma é a certeza que terá sempre alguém com quem comemorar as conquistas, chorar os fracassos, torcer pelos seus planos e lembrar quais são os seus sonhos.

É entre irmãs que aprendemos o que é amar.

Texto publicado no Amor Crônico em 30 de maio de 2015.

            

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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