Construindo o próprio ninho

Em agosto de 2015 saí da casa dos meus pais. Foi uma decisão planejada, pensada e programada. Por mais que a casa dos meus pais fosse meu lugar no mundo, o ninho já estava pequeno para abrigar tanta gente, eu estava com uma vontade cada vez maior de fazer as coisas de uma maneira diferente da deles e o mais importante: eu havia me apaixonado e já estava namorando há alguns anos.

Por mais amorosos, permissivos e atenciosos que nossos pais sejam chega uma hora em que morar com eles não é uma coisa simples. Alguns comportamentos e hábitos deles passam a incomodar. Arrisco afirmar que eles também sentem o mesmo em relação aos nossos. Mas talvez eu estivesse lá ainda, cuidando e sendo cuidada, se não fosse a enorme vontade de construir meu lugar no mundo com a pessoa que escolhi. E que me escolheu também.

A hora de construir o próprio ninho sempre chega. Por necessidade, por liberdade, por amor a outra pessoa, não importa. Dificilmente ficaremos a vida toda na casa dos pais. E, por mais que eles saibam disso e afirmem que criam filhos para o mundo, irão sofrer com a nossa partida. Independente da idade que você tenha. No meu caso sofreram em dobro, pois além de mim ainda levei meu filho que eles tanto ajudaram a criar e educar.

Além disso, independente da idade ou do tempo dispensado para planejar a empreitada, sempre ficamos apreensivos. Mas, no meu caso, nenhum dos receios que tinha, principalmente em relação a rotina doméstica, se materializaram depois da mudança. Para falar a verdade desde do dia em que mudei de casa a nova rotina vem se adequando de uma maneira muito simples e fácil.

É uma sensação maravilhosa chegar em casa e encontrar as coisas em seus devidos lugares. Ver que ficaram lindos os objetos de decoração escolhidos com tanto carinho. Perceber que cada canto retrata a personalidade dos seus moradores. Se sentir tão feliz e confortável dentro de sua casa que não faz questão de sair para lugar algum.

Mas sair da casa dos pais é muito mais do que mobiliar uma casa, organizar a rotina, bancar as próprias despesas e ter a certeza de que as tarefas domésticas não se concretizam sem que alguém se manifeste para realizá-las. É a melhor oportunidade de conhecermos nós mesmos.

Também tem sido uma ótima maneira de conhecer o meu companheiro. Mesmo namorando há anos é debaixo do mesmo teto que sabemos exatamente como a pessoa é. Embora nosso período de estágio tenha sido fundamental para construirmos o nosso refúgio e decidirmos arriscar uma vida em comum, agora que estamos juntos de verdade.

Na nossa própria casa que nos certificamos de que não precisamos de uma casa para morar, mas para viver. Que mesmo pequena ela deve ter espaço para abrigar aqueles que você ama e todos os seus sonhos. Deve ser o nosso lugar preferido no mundo. O lugar para onde desejamos voltar depois das mais lindas viagens.

Uma vez dentro da nossa casa, descobrimos que um ninho seguro, feliz, aconchegante e cheio de amor é mais fácil de construir quando os pais tiveram muito amor para dar. E, além disso, permitiram que fôssemos nós mesmos desde crianças, respeitando que somos pessoas além deles – e não uma extensão de seus corpos e mentes.

Amar os filhos não é aprisioná-los em gaiolas imaginárias. É fortalecê-los para que criem asas, voem cada vez mais alto e sejam capazes de construir seus próprios ninhos. Sozinhos ou acompanhados.

Texto publicado no dia 15 de fevereiro de 2016 no Amor Crônico.

                     

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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