Sabe aquele instinto materno de que tanto falam? Os discursos de que as mães sabem tudo sobre seus filhos, os conhecem como ninguém e descobrem tudo o que desejam? Não se aplicam a mim. Com meu filho nos braços eu me dei conta de que quando uma criança nasce não nasce uma mãe instantaneamente.
Já passou muito tempo e não lembro com exatidão dos primeiros meses. Mas recordo que nas primeiras semanas eu não ouvia o choro do meu filho de madrugada, a amamentação foi difícil e eu me desesperava constantemente. Se a maternidade é algo tão natural, tão instintivo, toda mulher já nasce sabendo, como eu tinha tanto medo de não dar conta? Eu só podia ser uma péssima mãe, pensava.
Certa de que algo errado havia comigo eu fui estudar. Comprei livros sobre a vida do bebê, fases no desenvolvimento da criança, educação infantil. Mas na prática a teoria é outra. E isso foi ótimo para mim. Acreditar que eu não era a melhor mãe do mundo me fez um pouco melhor do que muitas delas. Eu não viraria mãe da noite para o dia, precisava aprender a ser uma.
Amo meu filho com toda a minha alma e coração, mesmo antes de conhecer o seu rosto, mas quando o tive em meus braços eu não tinha a menor ideia do que era o certo a fazer. Fui aprendendo aos poucos. E fui aprendendo com ele.
Ter a ajuda da minha mãe, incansável na arte de proteger sua filha e um neto recém-nascido, tornou as coisas menos difíceis. Ela se preocupava com o neto, claro. Mas estava mais preocupada com a mãe que sua filha acabara de se tornar. Se essa mãe precisava se alimentar, tomar banho ou ir ao banheiro. E jamais interferiu no tipo de educação que eu desejava dar ao me filho, delimitando o espaço de cada uma de nós na vida daquela pessoa que acabara de nascer.
Meu filho não é mais criança e, diferente de muitas mães, eu não convivo com a culpa. Quer dizer, não com muita. Tenho certeza de que até hoje eu fiz o melhor que poderia ter feito. Curti cada fase, participei de todas as atividades que pude, ensinei o que julguei necessário e, sobretudo, disse milhares de vezes que não sabia qual era o certo a fazer. Que eu estava aprendendo também.
Ser mãe é uma experiência transformadora, porque amar alguém é algo surpreendente. Permite que a gente olhe o mundo de outra maneira, reveja pontos de vista, desconstrua certezas, busque novas alternativas e se coloque no lugar do outro. Em relação a maternidade, hoje, olhando para trás, eu acho que muito mais importante do que uma educação rígida e um arsenal de normas a serem cumpridas, é conquistar a confiança das crianças.
A confiança é base de todo e qualquer relacionamento. E confiamos naqueles que dizem a verdade, que se mostram inseguros nos momentos de fraqueza, pedem desculpas, dizem o que sentem e estão desarmados diante da vida. Mãe também é gente. Não é rainha, super-herói, vidente, mágica nem bruxa.
Dito isso, mães devem chorar. Pedir ajuda. Ficar em dúvida sobre o melhor a fazer. Conversar com outras mulheres para entender que a maternidade é desesperadora para todas, pelo menos em algum momento da vida. E aceitar que não existe uma única maneira de ser mãe, pois cada criança é única e exige um tipo de atenção diferente.
Mães não nascem prontas. Eu, até hoje, estou aprendendo a ser uma.
[…] Crônica publicada, no dia 14 de maio de 2017, no blog de Giseli Rodrigues. […]