Vivemos em um mundo em que muitas pessoas se orgulham de viver sozinhas, serem autônomas e donas de si mesmas. E se gabam da capacidade de não depender de ninguém e não ter obrigação de dar satisfação sobre a sua vida. Às vezes chega a ser embaraçoso confessar que deseja se relacionar e compartilhar a vida com alguém.
É maravilhoso viver a própria vida, não se prender a ninguém e fazer o que bem entende a hora que julgar necessário. Mas conviver com alguém e compartilhar a vida também pode ser. Não há nada de mal em ser feliz sozinho ou acompanhado. Mas há quando as pessoas deixam de estar acompanhadas, mesmo apaixonadas, porque têm medo de perder a liberdade, de depender de alguém, de adequar os seus planos para encaixar os planos de outro alguém.
Vocês entendem o que quero dizer? Ninguém deve ficar com alguém porque o outro quer, porque chegou em determinada idade, porque todo mundo casa. Os tempos são outros e ninguém é obrigado a ficar com quem não quer estar. Mas se privar de viver um relacionamento é covardia. E amar exige mesmo muita coragem.
Amar é se arriscar num abismo, é tirar o chão sob os seus pés, é rever todos os seus valores, é aprender a cada dia, é dar oportunidade de apreciar novas cores e sabores, é confrontar suas verdades. É amar num minuto, odiar no seguinte, mas querer todos os dias. É ter consciência das falhas do outro, mas ter muito mais do que se orgulhar e admirar.
Viver um relacionamento amoroso, quando muitas pessoas bradam pela solidão, resistem ao amor e querem ter controle sobre todos os seus sentimentos, é também um ato revolucionário. Um ato de fé, esperança e crença de que juntos somos mais fortes. É construir em conjunto, é dialogar, conciliar interesses, se responsabilizar pelo outro, se comprometer com uma relação.
Não acho que todos devem namorar, casar e construir uma família. Cada um deve viver da maneira que se sente feliz e em paz consigo mesmo. Mas aqueles que encontraram a quem amar, mas estão morrendo de medo: por que não arriscar? Às vezes é preciso ouvir a voz do coração, seguir os próprios sentimentos e estender a mão para uma nova experiência.
Pode ser que você tenha o coração partido um dia, chore e sofra. Mas deixar de viver por medo de perder é acreditar que essa relação vai terminar antes mesmo de começar. Deixe que comece. Você pode se surpreender.
Crônica publicada no Amor Crônico em 17 de julho de 2017.