Meia palavra basta?

Eu gosto muito dos ditados populares. Eles fazem parte da nossa cultura, da nossa tradição e transmitem a sabedoria popular. Eu utilizo com frequência os ditados que ouvi na infância e acredito que muitas pessoas também se apropriem deles para advertir, aconselhar, pontuar uma colocação. Mas às vezes repetimos frases que nos foram ditas sem refletir, de maneira automática e mecânica.

Esta semana, depois de ouvir “para bom entendedor, meia palavra basta”, eu me vi refletindo sobre o ditado que já reproduzi inúmeras vezes. Meia palavra basta mesmo? Será que quem diz que entende realmente entendeu? Por que esperar que o outro compreenda sem darmos todas as explicações? Deixar de falar com clareza não é correr o risco de ser interpretado de maneira equivocada?

Compreendo que precisamos prestar atenção no outro, tentar entender o que as palavras não são capazes de explicar, perceber que há algo estranho ou diferente e procurar saber o que é. A observação é valiosa para a manutenção dos relacionamentos. Faz com que a gente se conecte ao outro e nos ajuda a perceber as suas emoções.

Por outro lado, principalmente quando se trata de relacionamento amoroso, não é justo deixar que o outro adivinhe o que sentimos e se passa na nossa mente. A ideia do amor romântico nos leva a crer que quem ama tudo entende, que os apaixonados conversam no olhar e que não há necessidade de explicar os sentimentos. Mas eu vos digo: há.

Eu, que prefiro escrever a falar, sei o quanto é difícil colocar as emoções, traduzir os sentimentos em palavras e falar abertamente o que acha, pensa ou quer da relação. Com o passar do tempo, no entanto, aprendi que não podemos transferir a responsabilidade emocional para o outro desejando que tudo seja compreendido sem que seja explicado.

Converse. Exponha suas emoções, revele suas expectativas, deixe claro o que deseja. Não fique esperando que o outro interprete o que você quer. Fale todas as frases, com todas as letras. Inteirinhas.  A comunicação, tão negligenciada, é muito importante para a construção de um vínculo saudável e duradouro.

Meia palavra não basta não. Se houve alguma situação inconveniente e você não deseja discutir naquele momento, tudo bem. Mas volte ao assunto depois, esclareça seu ponto de vista, ouça. Se já é difícil compreender e ser compreendido usando palavras inteiras, imagina quando as deixamos pela metade.

Crônica publicada no Amor Crônico em 17 de setembro de 2017.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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