Quantas pessoas você inspirou e nem sabe?

Quando eu ainda fazia a minha primeira graduação, lembro que minha mãe chegou em casa toda feliz e orgulhosa, porque uma vizinha, que tinha feito o antigo curso Normal, dava aulas há anos, era mais velha, casada e com filhos, resolveu fazer vestibular (e passou!) depois de ter conversado comigo. Eu lembro da conversa que tivemos, ela dizendo que já era velha para iniciar um curso universitário, que fazer vestibular depois de tantos anos seria difícil e eu rebatendo suas frases sem imaginar que seria o estímulo que faltava para ela recomeçar os estudos.

Até hoje me pego pensando nessa história, porque, neste caso, eu tive a oportunidade de saber que incentivei alguém. Mas quantas pessoas inspiramos e nem sabemos? Quantas pessoas nos inspiram e nem contamos a elas? Um dos melhores educadores de educação física que conheço fala com frequência “a palavra convence, o exemplo arrasta”. Acho que a frase não é dele, mas pouco importa. Importa que ela é verdadeira.

Quem tem filhos sabe que o exemplo educa – ou deseduca. Mas somos exemplo para quem pouco convivemos ou nem sequer conhecemos. Um livro que você divulga nas redes sociais pode criar um leitor, suas fotos fazendo exercícios físicos pode estimular a alguém a deixar o sedentarismo, uma receita que compartilha pode estar sendo feita agora em outra casa.

Uma conversa despretensiosa pode despertar sentimentos que você nem imagina. Foi assim o meu reencontro com o Tae Kwon Do. Eu fazia hidroginástica com uma turma muito animada e uma senhora que admiro muito iniciou uma conversa sobre qual atividade gostava mais de praticar. Ela gosta de dançar, cada um falou o que mais gostava até que ela me perguntou: e você? Lembrei que, na adolescência, adorava praticar arte marcial e no mesmo dia entrei em contato com o professor para ver se tinha disponibilidade para me dar aulas.

Neste caso eu contei a ela que aquela conversa me incentivou a voltar a fazer Tae Kwon Do. Assim como falei para a tia de uma amiga, que me deu um gibi da turma da Mônica quando eu estava na alfabetização, que aquele gesto me fez gostar de ler e querer escrever. Mas nem todos dizem. Até porque as pessoas podem ser incentivadas por quem nem conhecem. Um bate-papo com desconhecido numa fila, a leitura de uma matéria de jornal, o post de alguém na rede social.

O que eu quero dizer é que todos os dias influenciamos e somos influenciados. Mesmo que a gente não se dê conta disso, pessoas são tocadas pelo que dizemos ou fazemos. Com maior ou menor intensidade. Podem ficar alegres ou magoadas, se sentirem acolhidas ou desrespeitadas, desestimuladas ou incentivadas.

O que você quer transmitir? Que tipo de comportamento ou atitude gostaria de incentivar? Como gostaria de ser visto pelo outro? Não estou dizendo que temos que nos preocupar com tudo que falamos e nos responsabilizar pelo que cada pessoa sente na nossa presença. Quero dizer que você pode nem saber, mas neste exato momento tem gente se inspirando em você.

Que modelo você quer ser?

Crônica publicada por Giseli Rodrigues, no Amor Crônico, em 24 de janeiro de 2021.

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Giseli Rodrigues

Mãe do Lucas. Escritora. Professora. Revisora. Especialista em Letras, Recursos Humanos e Gestão Empresarial. Estudante de Psicologia. Chocólatra. Flamenguista. Pintora nas horas vagas. Bem-humorada. Feliz.

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