Eu queria ter coisas bonitas e frases amorosas para escrever, mas como todas as pessoas – se não a maioria – eu ando no limite. É difícil estar vivendo num país que se tornou o epicentro da pandemia no mundo, com milhares de pessoas morrendo diariamente, pessoas próximas doentes e sem perspectiva de que as coisas melhorem em breve.
Confesso que ficar em casa é a única coisa boa disso tudo. Sinto-me segura aqui. E, como boa canceriana, permanecer em casa não é um problema, e sim um verdadeiro prazer. Nem sei como vai ser para me adaptar de novo a uma rotina de transporte público diariamente. Sofro por antecedência. Mas isso é o de menos, né? Lá na frente eu me acostumo de novo.
Todas as pessoas passam por situações difíceis e hoje estamos todos juntos passando por essa pandemia. Cada um de uma maneira e, sem dúvida, é mais traumatizante para uns do que para outros. Perdi um tio e isso me faz ter muito medo da doença. Tem gente que ficou internada ou perdeu vários familiares. E, como se tão pudesse ser pior, num país onde governantes riem das mortes, minimizam a doença, indicam remédios sem comprovação científica, bradam contra a vacina, nossa única esperança concreta até agora.
Todo dia parece o mesmo dia. Vocês têm essa sensação? A pandemia tem testado a nossa resiliência, porque a gente precisa se adaptar, fazer um esforço e seguir em frente. E ser resiliente é a única coisa que precisamos neste momento, já que não podemos ir contra tudo e todos e mudar o que está acontecendo. Mas como desenvolver a resiliência em meio a esse cenário caótico?
- Desabafe sobre seus sentimentos
Estamos longe, fisicamente, dos familiares e amigos, mas nada impede de pedir apoio e contar com eles para desabafar, trocar experiências e confidências. É importante ter em quem confiar e pedir ajuda de vez em quando. É uma necessidade humana se sentir amado e amparado e, principalmente numa pandemia, não dá para ficar esperando que os outros percebam nossas fragilidades e medo se muitas vezes estão distantes.
- Tenha flexibilidade
A verdade é: não podemos mudar o cenário que estamos vivendo. Diante disso, como podemos reagir? Eu não sou uma pessoa good vibes, não estou aqui para dizer que sairemos melhores depois dessa pandemia, que é um aprendizado, que estamos vivendo uma oportunidade. Milhares de pessoas morrendo por dia. Desemprego nas alturas. Pessoas próximas adoecendo. Ou morrendo. A única coisa que podemos fazer é a nossa parte: se puder, fique em casa. Se precisar sair se proteja. Estimule a vacinação dos idosos que conhece, se vacine quando chegar sua vez. E faça com que sua casa seja um bom ambiente para trabalhar, estudar, se exercitar e passar os dias com a sua família.
- Controle a ansiedade
Cada pessoa tem a sua própria forma de lidar com a ansiedade, mas há comprovação de que é saudável ter uma rotina. A vida lá fora está um caos e incontrolável. Crie uma rotina possível e tente incluir a prática de exercício físico, meditação, realização de algum hobby para ajudar a abstrair os problemas e enfrentar as adversidades. Ter uma alimentação equilibrada e dormir bem também são fundamentais. Mas tudo bem não conseguir fazer tudo. Faça o que for possível dentro da sua realidade. Um dia de cada vez.
- Reconheça a sua força
Pense que ao longo da vida você passou por outras situações adversas. E sobreviveu. Esse momento sombrio, triste, incerto e caótico irá passar. E continuaremos aqui, firmes e fortes. Tudo que vivemos hoje será transformado em passado, em história que contaremos aos mais jovens.
Eu sei que a pandemia tem sido um teste para a nossa resiliência, mas mas não há outra maneira a não ser seguir em frente. Do jeito que dá. Do jeito que conseguimos. Do jeito que pudermos. Uma hora vai passar.
Crônica publicada por Giseli Rodrigues no Amor Crônico em 31 de março de 2021.