Meus pais não me fizeram acreditar em coelhinho da Páscoa, nem em Papai Noel ou qualquer outro personagem do gênero. Em datas comemorativas eu e minha irmã não só escolhíamos o que queríamos como íamos junto com meus pais para comprá-los. Fomos educadas a respeitar os coleguinhas que acreditavam e participávamos das festividades da escola como eles. Sabíamos que eram pessoas vestidas de personagens, mas não tínhamos o direito de desfazer as ilusões dos outros. Tudo transparente, sem segredos e sem traumas.
Cresci, tive filho e fiz tudo diferente. Ou pelo menos neste aspecto. O Lucas escreveu cartinha para Papai Noel e colocou cenoura na janela esperando ovos de chocolate. Hoje tenho uma enteada que acredita em tudo isso também e nos dias que antecederam o domingo de Páscoa, lancei mão de todas as frases possíveis e imagináveis em momentos de desobediência: “Sabia que o Coelhinho da Páscoa está vendo tudo?”, “Comporte-se, meu amor, assim o Coelho fica triste e não passa aqui em casa.”, “Ih, se não tomar banho o coelhinho pode te confundir com um porquinho. Porquinho não ganha presente de Páscoa.”
Numa dessas vezes, meu filho, hoje adolescente, ouviu e perguntou: “Mãe, como você consegue falar uma coisa dessas sem rir?” Rindo muito, relembrou das coisas que eu falava, principalmente sobre Papai Noel. Como todo jovem da sua idade, ele acha todos esses personagens ridículos e todas essas invencionices uma bobagem. Afirmou, inclusive, que não vai fazer nada disso com o seu filho. Deduzo, então, que meu neto irá escolher seus próprios ovos de chocolate e presentes de Natal. Tal como eu e minha irmã.
Conclusão da história: a vida é cíclica.