Se alguém dissesse que um dia eu iria gostar de correr, certamente eu daria altas gargalhadas. Desde a infância, nas aulas de Educação Física dedicadas a Atletismo, correr era a atividade que eu mais detestava. Não fazia o menor sentido ficar correndo sob o sol. Como não fazia sentido correr em dias nublados. Ou em dias de chuva. Não fazia sentido em dia nenhum.
Adulta, participei de algumas corridas de rua, não pelo esporte, mas pelas companhias. Muitas delas eu completei caminhando. Não tinha preparo físico, é verdade, mas também não tinha gosto pela coisa. Por que estou falando isso agora? Porque embora a corrida não seja meu esporte preferido, hoje eu gosto de acordar cedo, colocar um tênis e correr. Seja para treinar ou participar de uma prova.
E eu sei exatamente quando isso mudou: no dia 27 de janeiro de 2019, dia do aniversário da minha mãe. Ela faleceu em dezembro e dias depois fiz a inscrição para mim, meu marido e minha irmã participarmos de uma corrida de rua. Eu sabia que seria um dia difícil e tinha dúvida se teria força para correr. Mas fui sem força mesmo. Estava fragilizada, a dor era muito recente, não treinava corrida, mas, surpreendentemente, correr tornou o meu luto menos doloroso naquele dia.
Cruzar aquela linha de chegada me fez entender que a vida continua, que temos mais força do que supomos, que mais importante do que travar disputa com os outros é vencer a nós mesmos, que as dificuldades vão continuar existindo, independente de nos entregarmos a elas ou não, e que às vezes o incentivo vem de onde menos imaginamos.
Nas corridas de rua encontramos amigos, é verdade. Mas na maioria das vezes o incentivo vem de desconhecidos que gritam “não para”, “você consegue”, “começa a trotar, não anda”. Arrisco dizer que é o esporte mais motivacional que existe. Muito melhor que qualquer palestra ou livro de autoajuda. Cada corredor ali corre por alguma razão. Alguns estão saindo do sedentarismo, outros buscando o pódio, outros o seu recorde pessoal. Tem pessoas de todas as idades, pessoas com deficiência, pais com filhos. É uma coisa linda de se ver!
Mas é, acima de tudo, você controlando o seu corpo. E a sua mente. Dizendo para si mesmo “não para”, “você consegue”, “vai que dá”. Por isso a sensação de dever cumprido ao cruzar a linha de chegada é indescritível – e diferente para cada um que está na mesma corrida. Uma medalha é a materialização de que ninguém pode fazer por nós a não ser nós mesmos.
A corrida nos ensina que ficar parado no meio da rua não nos levará a lugar algum, que alcançar um objetivo requer dedicação, que é preciso persistir, que não temos alternativa a não ser seguir em frente, que precisamos conhecer nossos limites. Assim como na vida, em alguns momentos vai ser necessário diminuir o ritmo e até desistir de uma distância ou outra. Mas, por mais que demore, sempre alcançaremos nossos objetivos se nos dedicarmos e confiramos em nós mesmos.
Correndo vemos o quanto estamos vivos, o quanto faz bem cuidar do corpo e da mente e o quanto somos fortes para enfrentar as adversidades da vida. Se você ainda não corre, comece. Um passo de cada vez e você estará cada vez mais longe. E mais rápido.
[…] publicada no blog pessoal da autora em 16 de setembro de […]